São Paulo - Considerada um dos nomes mais importantes do país e chamada de "Dama da literatura brasileira", a escritora Lygia Fagundes Telles morreu, aos 98 anos, na manhã deste domingo, 3. Ela era integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde a década de 80 e recebeu inúmeros prêmios, como Camões e Jabuti.
A escritora morreu em sua casa e a causa da morte é desconhecida. Ao Estadão, a neta, Lúcia, informou que a avó não passava por nenhum tratamento de doença. "Ela estava velhinha, não sofreu nada", disse.
Seu primeiro livro, Porão e Sobrado, foi publicado em 1938, em edição financiada pelo pai. Já o segundo, Praia Viva, saiu em 1944, um ano antes de seu bacharelado de Direito. Em 1949, três anos depois do término do curso, a escritora publicou seu terceiro livro de contos, O Cacto Vermelho, pelo qual recebeu o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras.
Ela tem obras em diversos idiomas, como alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês, sueco, e tcheco. A trajetória também conta com adaptações de obras para o cinema, teatro e TV.
Em 1985, ela foi eleita para ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, iniciando uma fase de reconhecimento internacional, como se consagrando Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (1987) e, principalmente, com o recebimento, em 2005, do Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa, pelo conjunto da obra.
A Academia Paulista de Letras afirmou que os detalhes do velório ainda não foram definidos, mas deve ser realizado neste domingo ou nesta segunda-feira na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.
Biografia
Lygia de Azevedo Fagundes nasceu no dia 19 de abril de 1923, na rua Barão de Tatuí, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. Era a quarta filha de uma pianista, Zazita, e do procurador promotor público Durval de Azevedo Fagundes. Por conta da profissão do pai, ela e a família se mudaram para várias cidades paulistas. Se da mãe herdou a vocação artística, de Durval, Lygia descobriu uma de suas profissões.
"Decidi ser advogada por causa do meu pai, Durval, que também se formou na São Francisco. Era um homem lindo, adorável, mas que tinha um grande pecado: era um jogador contumaz. Adorava roleta. Ele me levava a um cassino em Santos e, enquanto eu, pequena, tomava uma enorme taça de sorvete, meu pai jogava as fichas e as perdia, uma a uma. Quando íamos embora, derrotados, ele sempre dizia: ‘Hoje perdemos, mas amanhã a gente ganha’. Eu o admirava muito", relembrou Lygia ao Estadão, em 2013. "Mas não foi fácil estudar na São Francisco. Na minha turma, éramos apenas seis mulheres entre mais de cem homens. Todas virgens! Certa vez, um dos meus colegas me perguntou: ‘O que vocês, mulheres, querem aqui na faculdade? Casar?’ Respondi, de bate-pronto: ‘Também!’ Mal sabia ele que me casaria com um dos professores (Gofredo da Silva Telles Júnior)".
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