Padre Júlio Lancellotti fazia procissão na Sexta-Feira Santa quando foi interrompido por policiais militares em SP Victor Angelo Caldini

Em uma tradição do calendário católico, o padre Júlio Lancellotti foi às ruas na Sexta-feira Santa, data na qual a religião se recorda da Paixão de Jesus Cristo, para uma procissão. No entanto, o religioso, conhecido pela defesa ao direitos humanos, foi impedido e teve o ato interrmpido pela Polícia Militar de São Paulo.
Em uma publicação no Instagram, o pároco da Igreja São Miguel Arcanjo, em Belenzinho, na capital de São Paulo, mostrou imagens dos agentes paralisando a atividade cristã na sexta-feira. "PM quer saber o que é a via sacra do povo de rua!", escreveu ele.
Nas redes sociais, políticos repercutiram a ação da PM diante da procissão promovida pelo pároco. A deputada federal Sâmia Bonfim (PSol) defendeu a liberdade religiosa. "Toda minha solidariedade ao padre Júlio Lancellotti que mais uma vez foi intimidado pela PM. Dessa vez enquanto realizava a via sacra com o povo da rua. Para a motociata do genocida dão dinheiro público, fecham estradas e estendem tapete vermelho", disse ela.
O deputado federal Carlos Zarattinni (PT) também se manifestou. "Toda solidariedade ao padre Júlio Lancellotti, que passou ontem pelo constrangimento de mais uma vez ser intimado pela PM. Dessa vez ele realizava uma via sacra, um dos eventos religiosos mais tradicionais do Brasil, com o povo da rua", escreveu. 
Para a Ponte Jornalismo, o padre afirmou que toda ação no local havia sido pacífica, segundo Lancelotti. “A população de rua pendurou cobertores nas grades em frente à Prefeitura como forma de protestar contra as operações do “rapa” [retirada de pertences por agentes do Estado]. Quando os cobertores foram retirados, foram jogadas flores naquele espaço. E várias dessas pessoas estavam manifestando o seu sofrimento e realidade que vivem”, contou ele.
O religioso afirmou que quatro policiais militares entraram no meio da manifestação e queriam saber quem era o responsável. "Quando chegaram até mim, queriam me levar para outro local. Eu disse que não iria porque estava comandando a procissão. Eles insistiram e eu concordei em falar com eles ali. Queriam saber o que era aquilo que estava ocorrendo, para onde iria, até que horas iria e tiraram foto dos meus documentos”, detalhou. 
Segundo Lancellotti, os policiais acompanharam a procissão até o final. Ele avaliou aquela ação da PM como uma forma de intimidação, em um ato que respeitava as tradições da Igreja Católica e também para manifestar o incômodo das pessoas que moram atualmente nas ruas da maior capital do país.

“Eu senti a presença dele como uma forma de intimidação. Nossa procissão teve várias reivindicações da população em situação de rua, denunciando a violência da polícia, por isso tem uma natureza diferente das vias sacras que ocorreram em outras paróquias da cidade. Claro que a polícia vai se incomodar muito mais com uma manifestação feita por essas pessoas”, avaliou. 
Procurada pelo O DIA, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo ainda não respondeu ao questionamento da ação da PM.