Jornalista Dom Phillips teve o corpo encontrado nesta quarta-feira pela Polícia FederalReprodução

Salvador - Após receber a confirmação do assassinato de Dom Phillips e de Bruno Pereira, confessado pelo pescador Amarildo Oliveira, conhecido como 'Pelado', em depoimento à Polícia Federal, nesta quarta-feira, 15, Alessandra Sampaio, esposa do jornalista inglês divulgou nesta noite um emocionado comunicado.
"Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor", disse.
Orgulhosa da trajetória profissional do marido, que escolheu o Brasil como lar desde 2007, Alessandra temia pelo pior após dez dias sem rastros do paradeiro de Dom Phillips e Bruno Pereira na expedição no Vale do Javari. Com o coração partido, ela lamenta o trágico desfecho que encerra a angústia de familiares e amigos da dupla.


Confira o comunicado na íntegra:

"Embora ainda estejamos aguardando as confirmações definitivas, este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno. Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor.

Hoje, se inicia também nossa jornada em busca por justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível.

Agradeço o empenho de todos que se envolveram diretamente nas buscas, especialmente os indígenas e a Univaja. Agradeço também a todos aqueles que se mobilizaram mundo afora para cobrar respostas rápidas.

Só teremos paz quando as medidas necessárias forem tomadas para que tragédias como esta não se repitam jamais. Presto minha absoluta solidariedade com a Beatriz e toda a família do Bruno."

Perfil:
Dom Phillips

Dom Phillips era um jornalista britânico radicado no Brasil desde 2007. Ele era casado com uma brasileira e morava em Salvador, Bahia. O jornalista era colaborador de veículos prestigiados no mundo inteiro, como o britânico The Guardian e o americano The New York Times.

Dom costumava fazer matérias sobre meio ambiente e, segundo o The Guardian, desde 2018 fazia expedições para o Amazonas junto com Bruno. Com essa última viagem, o jornalista pretendia colher informações para o um livro sobre preservação ambiental que escrevia com o apoio da Fundação Alicia Patterson. A obra foi interrompida com quatro capítulos.

No site da agência literária Janklow & Nesbit, há uma sinopse do livro de Dom.

"Dom Phillips viaja pelas profundezas da Amazônia para nos mostrar o lugar mais maravilhoso da Terra, com toda a sua glória vibrante, frágil e radiante: a Amazônia. Com esse argumento, Phillips detalha a biodiversidade amazônica, mas denuncia o aumento das emissões de carbono e do desmatamento, o que poderá levar a Amazônia a um desequilíbrio climático e redução das chuvas. O livro "Como Salvar a Amazônia?" é descrito como, em parte, um diário de viagem, e em parte um guia motivado por desespero ambiental, pois Dom Phillips nos leva ao coração dessa grande maravilha do nosso planeta, mostrando-nos a miríade de povos que ela sustenta e as muitas maneiras pelas quais podemos evitar o colapso deste incrível ecossistema".
Bruno Araújo Pereira

Bruno Pereira era um dos maiores indigenistas do país e servidor de carreira da Fundação Nacional do Índio (Funai), onde foi coordenador regional. Falava quatro idiomas dos povos autóctones e participou de dez expedições de localização de indígenas isolados.

O indigenista também foi responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai até o ano de 2019, quando pediu licença por motivos particulares. Na ocasião, ele acabou sendo exonerado do cargo pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Luiz Pontel.

Pouco antes da exoneração, Bruno participou da Operação Korubo, que expulsou centenas de garimpeiros da terra indígena Yanomami, em Roraima. A Korubo foi o maior trabalho de combate à extração ilegal de minerais naquele ano.

O servidor público também colaborou com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) em projetos e ações pontuais. Na ONG, ele ensinava ativistas a manusear mapas e operar drones para que eles mesmos fiscalizassem a área.

Em nota, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) o reconheceu como a maior autoridade no trabalho em campo especializado em índios isolados. "Não visualizamos a realização da mesma atividade por qualquer outro indigenista na atualidade", escreveu a ONG.

Profundo conhecedor da Região de Atalaia do Norte, extremo oeste do Amazonas, Bruno foi visto pela última vez com seu colega, o jornalista inglês Dom Phillips, no dia 5 de junho, quando retornavam de barco da comunidade São Rafael para Atalaia do Norte. O trajeto de 72 quilômetros deveria ser percorrido em duas horas. A embarcação usada pela dupla era nova e tinha combustível suficiente para a viagem.