Cabo Frio amplia locais de aplicação da segunda dose da vacina contra a covid-19 ASCOM de Cabo Frio
Vacinação infantil tem a maior queda mundial em 30 anos
O Brasil está entre os dez países no mundo com mais crianças com imunização atrasada
Após dois anos de pandemia, foi registrada a maior queda nas vacinações infantis dos últimos 30 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Dados divulgados, nesta sexta-feira, 15, mostram que 25 milhões de crianças estão com a imunização atrasada. O Brasil está entre os dez primeiros países com maior número de não vacinados.
A queda na imunização é medida pela vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3), usada como marcador de cobertura vacinal. Ao todo, em 2021, são 2 milhões a mais de crianças com atraso vacinal em relação a 2020 e 6 milhões, comparando-se com 2019. A porcentagem daquelas que estão com o esquema vacinal completo caiu para 81%, redução de cinco pontos percentuais entre 2019 e 2021. No Brasil, as doses da DTP3 são aplicadas em bebês aos 2, 4 e 6 meses de idade.
OMS e Unicef revelaram que, de 25 milhões de crianças, 18 milhões não receberam nenhuma dose da vacina — e a grande maioria delas vive em países de baixa e média renda, com Índia, Nigéria, Indonésia, Etiópia e Filipinas. Entre as nações com os maiores aumentos relativos no número de crianças que não receberam uma só dose do imunizante entre 2019 e 2021, estão Mianmar e Moçambique.
O Brasil está entre os dez países com mais crianças em atraso com o calendário vacinal. Aqui, três em cada dez não receberam vacinas necessárias — cerca de 700 mil.
“A preocupação é muito real porque as coberturas vacinais não têm aumentado e tem um sério risco de volta de doenças que tinham sido eliminadas ou que eram raridade”, frisou a oficial de Saúde do Unicef no Brasil Stephanie Amaral.
De acordo com Stephanie, um dos motivos para a não vacinação é a falsa percepção de que estamos livres de determinada doença porque os casos não são frequentes. Ela cita como exemplo a poliomielite e a coqueluche. “Existe a falsa percepção que a vacina não é necessária, mas é o contrário. Muitas doenças não são vistas e a mortalidade infantil melhorou por causa da vacinação”.
Outras vacinas
No Brasil, consideradas outras vacinas, a cobertura caiu de 93,1% em 2019 para 71,49% em 2021, o que indica que cerca de 700 mil crianças não receberam essa vacina.
No mundo, a cobertura da primeira dose da vacina contra o sarampo caiu para 81% em 2021, o nível mais baixo desde 2008. Isso significa que 24,7 milhões de crianças perderam a primeira dose desse imunizante em 2021, 5,3 milhões a mais do que em 2019. Outros 14,7 milhões não receberam a segunda dose.
Em comparação com 2019, mais 6,7 milhões de crianças perderam a terceira dose da vacina contra a poliomielite e 3,5 milhões ficaram sem a primeira dose da vacina contra o HPV, que protege as meninas contra o câncer do colo do útero. Mais de um quarto da cobertura contra o HPV alcançada em 2019 se perdeu. Isso, de acordo com as organizações internacionais, tem graves consequências para a saúde de mulheres.
A queda na vacinação infantil deve-se, de acordo com o estudo a fatores como o número crescente de crianças que vivem em ambientes de conflito e de vulnerabilidade; o aumento da desinformação e desafios relacionados à covid-19, como interrupções de serviços e da cadeia de suprimentos, desvio de recursos para resposta à pandemia e medidas de prevenção que limitavam o acesso e a disponibilidade do serviço de imunização.
Incentivo à vacinação
Este retrocesso histórico nas taxas de imunização ocorre em um cenário de taxas crescentes de desnutrição aguda grave. “Crianças estão perdendo direitos, direito à saúde, à alimentação adequada. São necessárias medidas e estratégias para evitar isso. Em situação de fome, o sistema imunológico fica fragilizado e, em caso de volta de doença ou de contato com a doença, essas crianças ficam mais suscetíveis a ficarem doentes”, diz Stephanie.
A vacinação é importante, segundo o estudo, para prevenir surtos de doenças e prevenir mortes de crianças e adolescentes que seriam evitáveis. Níveis de cobertura inadequados já resultaram em surtos de sarampo e poliomielite nos últimos 12 meses.
As organizações internacionais recomendam que os governos e demais atores responsáveis pela saúde da população intensifiquem os esforços para a recuperação da vacinação para lidar com o retrocesso na imunização de rotina, expandindo os serviços de extensão em áreas carentes para alcançar crianças não vacinadas e implementando campanhas para prevenir surtos.
Além disso, recomendam campanhas de combate à desinformação e aumento da aceitação de vacinas, particularmente entre as comunidades vulneráveis; elevação dos investimentos em atenção primária à saúde e mais recursos para pesquisa e desenvolvimento de vacinas mais eficazes.
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