Falar sobre a gramática luso-brasileira também é falar de história. Por exemplo, falamos português -- enquanto quase todos os nossos vizinhos falam espanhol -- porque nosso território foi colonizado pelos “patrícios”. Mas a viagem pela história está apenas começando. Para entendermos as diferenças que um oceano inteiro separa, precisamos voltar ainda mais no tempo.
A origem da língua portuguesa
Não é novidade que a língua portuguesa deriva do Latim, assim como, por exemplo, o espanhol. Mas em sua definição mais exata, dizemos que o português é uma língua da família indo-europeia, do grupo das línguas itálicas, do subgrupo das línguas românicas e inserida entre as línguas românicas ocidentais.
Podemos ir ainda mais além e classificá-la, numa ordem de hierarquia, como “Galo-ibérica, Ibero-românica, Ibero-ocidental e, por fim, Galaico-portuguesa”. Assim como todas as línguas românicas, o português também tem como ancestral o Latim.
Um ancestral “vulgar”
O que viria a se tornar o português surgiu a partir do Latim, que chegou à Península Ibérica por meio das conquistas romanas. Os soldados do império difundiram o Latim Vulgar, uma versão da língua utilizada pelas camadas mais baixas da sociedade romana.
Em solo ibérico, a língua se misturaria com dialetos locais, principalmente de origem céltica, e daria origem a novos dialetos que, posteriormente, se tornariam idiomas diferentes. No século XII surge a versão arcaica do idioma, chamada de Galego-Português.
Para resumir a história toda, que é muito longa e cheia de detalhes, o Galego-Português se dividiu em dois, o galego, falado atualmente na região espanhola da Galícia, e o português, que tomou formas próprias em Portugal.
Nos próximos séculos, nosso idioma passaria por mudanças graças ao seu contato com outros povos e línguas, como o espanhol e o árabe.
As transformações do Galego-português até os dias atuais
Na tabela a seguir, você poderá ver as diferenças entre o português arcaico (Galego-português) e o português e galego atuais:
Assim como em Portugal o idioma passou por diversas transformações ao longo dos séculos, o mesmo se deu do outro lado do Atlântico, em solo brasileiro. É comum dizer que o idioma é algo vivo, que se altera naturalmente através de gerações.
Podemos entender as principais diferenças entre o portugês de Portugal e do Brasil pelo seu contato com outros povos, idiomas e costumes:
Línguas indígenas
Algumas décadas após o Descobrimento (termo este cada vez mais polêmico), Portugal começa a colonizar o que atualmente chamamos de Brasil. Por aqui, o português entra em contato com os idiomas falados pelos diferentes povos indígenas, principalmente as do tronco tupi. Surgia assim a Língua Geral, um dialeto falado entre portugueses e indígenas que, atualmente, está extinto.
Deste contato surgem não só novas palavras, como tatu, tucano, mandioca, paçoca e samambaia, mas também novos sotaques. É o caso do “dialeto caipira”, forma da língua portuguesa falada no interior do estado de São Paulo e em outros estados.
Línguas africanas
Junto com os povos africanos escravizados, chegaram no Brasil palavras e sotaques que também se incorporaram ao português que, no futuro, seria chamado de Português Brasileiro. Farofa, moleque, cafuné, cachimbo e fubá são exemplos das influências africanas.
Línguas dos imigrantes
A partir do século 19, começou no Brasil um movimento migratório de milhões de pessoas. Vindas de países europeus, como a Itália, Espanha, França e Alemanha, e de outros continentes, como o Japão e a Coreia, esses povos também deixaram seu legado na fala dos brasileiros. A presença estrangeira acabaria tornando o português do Brasil ainda mais diferente do português de Portugal.
É possível ver essa influência na fala do paulistano da capital e região metropolitana. A forma anasalada e o jeito de falar o “r” no “sotaque paulistano” são heranças da grande presença de italianos por lá.
As principais diferenças entre o português de Portugal e do Brasil
Após essa aventura pela história, chegou a hora de mostrarmos, na prática, quais são as principais diferenças entre o português de Portugal e do Brasil. Para facilitar a leitura, vamos dividir essas diferenças em tópicos.
Vocabulário
Muitas palavras se diferem entre os “portugueses”:
A pronúncia e os sotaques são as diferenças que percebemos imediatamente ao escutar um português e um brasileiro falando.
A fala em Portugal é mais rápida que a tupiniquim, e geralmente deixa de pronunciar as vogais átonas, enfatizando as vogais tônicas. No Brasil, a fala tende a ser mais cadenciada, e os dois grupos de vogais são claramente pronunciados. É comum que os não-falantes de português adjetivem o idioma brasileiro como “cantado” e “aberto”.
Outras características das pronúncias são do “l” e do “u” ao final das palavras. Enquanto no Brasil se fala “papeu”, em Portugal a letra “l” é pronunciada e destacada. Costumamos, também, substituir o “o” pelo “u”, como em martelo -- pronunciado “martelu”.
Os sotaques da língua portuguesa são muitos, e a diferença no Brasil é bastante visível. O modo que um gaúcho fala é muito diferente de um paulistano, que, por sua vez, se difere de um pernambucano. Em comum, todos esses sotaques divergem dos de Portugal.
Uso de pronome e gerúndio
No português de Portugal, o uso de pronomes se dá, normalmente, após o verbo: “Dá-me uma caneta”. No Brasil, o pronome é empregado no início de uma sentença: “Me dá uma caneta”.
Sobre o gerúndio, no Brasil o utilizamos para expressar eventos que acontecem no presente. “Estou escrevendo uma poesia”.
Em Portugal, a preferência é pelo uso do verbo em sua forma infinitiva, precedida por uma preposição: “Estou a escrever uma poesia”.
Gostou de conhecer mais sobre a história e as diferenças da língua portuguesa no Brasil e em Portugal? Esperamos que ela seja o início de uma jornada ainda mais longa pelo nosso idioma!
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