Lula e Biden aceleram reunião para mostrar afinidade contra extrema-direitaMarcelo Camargo/Agência Brasil
Lula pedirá apoio de Biden para afastar o 'fantasma da extrema-direita', afirma analista
O comércio, a economia e os demais temas são 'secundários', afirma a economista Monica de Bolle
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca nesta quinta-feira, 9, em Washington com um objetivo: garantir que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se comprometa a ajudá-lo a afastar o fantasma da extrema-direita, afirma à AFP a analista Monica de Bolle.
O comércio, a economia e os demais temas são "secundários", afirma a economista e pesquisadora do 'Peterson Institute for International Economics' de Washington.
Lula chega um mês depois dos ataques bolsonaristas às sedes da Presidência, do Congresso e do Supremo Tribunal e provavelmente pedirá o apoio Biden, mas o que o governo dos Estados Unidos pode fazer concretamente por ele?
"O principal motivo da visita é conversar sobre fortalecer a democracia e ter o apoio do governo americano. Não vão abordar temas comerciais, é quase exclusivamente para que peça o apoio que precisa internamente para afastar o fantasma da extrema-direita e, em particular, dos militares", disse a analista..
"Neste contexto é muito importante, durante as investigações, mapear quem financiou os ataques de 8 de janeiro. Há empresas e indivíduos que possuem ativos aqui nos Estados Unidos, acredito que Lula vai pedir ajuda para congelá-los", acrescenta.
As autoridades brasileiras descartaram que Lula e Biden abordem a situação do ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro por ser um tema, dizem, dos serviços migratórios americanos. Você considera um erro político?
"É complicado porque o problema é que Bolsonaro recebeu uma quantidade enorme de votos. Qualquer coisa pode ser percebida como uma perseguição da parte de Lula ou uma intervenção do governo americano. É possível que falem sobre a questão, mas sem ações concretas. Não é um erro, é uma cautela, precisam de muita cautela", alerta.
A China é o grande rival estratégico de Washington, mas o principal sócio comercial do Brasil. Lula está no meio do fogo cruzado?
"Lula precisa da ajuda dos Estados Unidos na democracia, mas para a economia precisa da China. Está na corda bamba, e agora com os balões chineses a situação ficou ainda mais complicada. Lula é um político e negociador muito, muito habilidoso. E Biden tem interesse em uma relação próxima com este governo, precisa construir uma ponte. Haverá algum aviso e menção, mas suave", avalia.
O meio ambiente é uma prioridade para os dois governos. Que tipo de cooperação deve ser estabelecida?
"No momento, o mais importante é ter o apoio das instituições, a solidez, o compromisso de que os Estados vão ajudar o Brasil no que for necessário. Nunca houve um momento na história recente em que um presidente teve que recorrer às grandes democracias do mundo para pedir apoio porque sempre resolveu seus problemas sozinho. Agora a situação é muito diferente, Lula não pode ficar sozinho, ele precisa de legitimidade. Isto é o principal e o restante é secundário. A questão ambiental surgirá, estão alinhados no que é necessário, podem anunciar grupos de trabalho em vários temas, talvez sobre este, mas não muito mais.
Apesar da boa sintonia, persistem as divergências, como por exemplo sobre a guerra na Ucrânia. O Brasil condena a invasão russa, mas não adotou sanções contra Moscou. Você acredita que o país deveria mudar sua estratégia para se alinhar com Washington?
"A construção dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é um tema importante para Lula, mas as condições democráticas são ainda mais. Se Biden pedir para ele mudar de posição, acredito que Lula estaria aberto a pensar no tema", conclui.