Empresário responde por crimes sexuais, sequestro e cárcere privado, mas está fora do BrasilReprodução

São Paulo - Um ex-funcionário do empresário Thiago Brennand, acusado de crimes sexuais, afirmou no último domingo, 5, que o patrão agredia o próprio filho com uma máquina de choques. De acordo com o relato, o jovem, hoje com 17 anos, as agressões começaram quando ele tinha entre cinco e seis anos na época das agressões. "Teve uma época que eu tive que esconder uma máquina de choque porque ele batia no menino. Pegava o choque, ficava dando nele", disse o ex-motorista ao programa "Fantástico" da TV Globo.
Brennand ficou conhecido após agredir, em agosto do ano passado, a modelo Alliny Helena Gomes, 37, durante uma discussão em uma academia na zona oeste de São Paulo. Ele também responde por crimes sexuais, sequestro e cárcere privado. Além de agressão, injúria, calúnia e difamação.
De acordo com o ex-motorista do empresário, o adolescente também teria sido agredido com cotoveladas e até com o uso de uma muleta, na época ele tinha 14 anos. "Abriu a cabeça do menino". O jovem é o filho único de Brennand. O empresário e a mãe se separaram quando a criança tinha apenas dois anos. A família vivia em Pernambuco e, desde então, o menino morava com o pai.
Segundo a reportagem, durante anos a mãe acionou a Justiça pela guarda do filho, mas ela foi concedida ao empresário. Durante a entrevista, o ex-motorista de Thiago Brennand ainda afirmou que o empresário chegou a ameaçar estuprar a filha do então funcionário. Ela tinha 17 anos na época. "Thiago Brennand, para mim, é um cara desumano. Ele fazia muito mal com as pessoas".
O filho de Brennand fugiu duas vezes. Na primeira ele foi para Recife e, junto com a mãe, registrou queixa contra o pai por lesão corporação e violência doméstica. Ele contou que apanhava desde os 4 anos, com choques. Um exame comprovou os ferimentos, mas dois dias depois o rapaz mudou o depoimento dizendo que estava com raixa do pai. Em seguida, a polícia encerrou o inquérito. 
O ex-motorista prestou depoimento ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) como testemunha. As supostas agressões contra o filho já estão sendo investigadas, segundo a reportagem. O "Fantástico" disse que tentou ouvir a defesa do empresário, mas não houve resposta.
Ainda segundo o ex-funcionário de Brennand, o empresário alugou, durante a pandemia de covid-19, um andar inteiro de um hotel. Ele reservou um dos quartos apenas para guardar suas armas. De acordo com o Fantástico, o empresário possuía 67 armas, entre fuzis e rifles.
A polícia informou a emissora que não há informações sobre onde estão as armas que Brennand possuía. Mas os policiais apreenderam, ainda no ano passado, acessórios para armas, como lunetas de longo alcance, mira a laser e dispositivos de correção de mira.
Neste momento, as armas que o empresário possuía são ilegais, já que o Exército já suspendeu o certificado de registro de CAC (caçadores, atiradores e colecionadores) de Brennand.
Denúncias
Thiago Brennand ficou conhecido após agredir, em agosto do ano passado, a modelo Alliny Helena Gomes, 37, durante uma discussão em uma academia na zona oeste de São Paulo. Após a repercussão, ele viajou para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, onde foi preso em 13 de outubro e solto após pagar fiança. Ele responde a processo de extradição em liberdade. Desde que a modelo veio a público denunciá-lo, outras vítimas surgiram.
Imagens mostram momento em que Thiago Brennand xinga e cospe em Helena - TV Globo/Reprodução
Imagens mostram momento em que Thiago Brennand xinga e cospe em HelenaTV Globo/Reprodução
Ainda no ano passado, a promotoria de Porto Feliz, no interior de São Paulo, levou à Justiça um denúncia contra o empresário pelo crime de estupro de uma mulher americana com quem ele se relacionou durante dois meses, de junho a agosto de 2021. De acordo com a acusação do Ministério Público, ele "amarrou as mãos dela e forçou relação sexual anal, chegando a manchar os lençóis de sangue".
Outros crimes também são mencionados pelos promotores de Justiça Evelyn Moura Virginio Martins e Josmar Tassignon Junior, autores da denúncia. Brennand teria ameaçado a americana de morte "caso ela pusesse fim ao relacionamento". A Promotoria destaca ainda que Thiago Brennand filmou a vítima durante relações sexuais e ameaçou divulgar os vídeos — prática denominada "revenge porn", pornografia de vingança.
Em duas ocasiões Brennand veio a público, através de vídeos publicados no YouTube, apresentar a sua versão dos fatos. Ele afirma ser vítima de uma "perseguição política" e diz que irá provar sua inocência. Na ocasião, o empresário ainda estava foragido da Justiça. Ele atacou e chamou a advogada, e ex-promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Gabriela Manssur de "bandida", "maloqueira" e "canalha". A advogada e ex-promotora, mencionada nos vídeos, pede uma indenização de R$ 400 mil contra o empresário.
Ele também é acusado de ameaçar e agredir um garçom e um caseiro do condomínio em Porto Feliz em que residia. O Ministério Público afirma que Brennand agrediu fisicamente o garçom "com um tapa no rosto e esganadura", chamou-o de "vagabundo" e ameaçou proibir sua entrada no condomínio. Em entrevista concedida ao Estadão em setembro, o trabalhador afirma que levou socos na testa, no olho, no nariz — que sangrou — e na nuca, e que precisou ser trocado de função pelo restaurante para preservar sua integridade.

O garçom registrou boletim de ocorrência no dia dos fatos e também passou por perícia junto ao Instituto Médico Legal (IML), que documentou as marcas das lesões.
Em dezembro do ano passado, o Tribunal de Justiça paulista aceitou uma nova denúncia contra o empresário. Essa nova denúncia, a sexta contra Brennand, se refere ao caso da estudante de medicina Stefanie Cohen, 30, que afirma ter sido estuprada por ele em outubro de 2021. O relato dela também foi revelado pelo "Fantástico". O caso corre em segredo de justiça.