Já são aproximadamente 122 horas de voo em busca pelo helicóptero desaparecidoFAB/Divulgação

As buscas pelo helicóptero que desapareceu em São Paulo chegaram nesta quinta-feira, 11, ao 11º dia. Ainda não há informações concretas sobre o paradeiro da aeronave, que tinha quatro ocupantes. Participam das operações de resgate equipes da Força Aérea Brasileira (FAB), do Corpo de Bombeiros e das polícias Civil e Militar. 
Luciana Rodzewics Santos, de 45 anos, e Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, de 20 anos, mãe e filha, embarcaram no voo. Com elas também estava um amigo da família, Rafael Torres. A aeronave era pilotada por Cassiano Tete Teodoro, de 44 anos.
O helicóptero desapareceu após deixar o Aeroporto do Campo de Marte, na capital paulista, por volta das 13h15 do dia 31 de dezembro, com quatro ocupantes com destino a Ilhabela, no Litoral Norte do estado. Pouco depois da decolagem, a comerciante Luciana Rodzewics, 46 anos, postou no Instagram da loja em que é proprietária um vídeo da aeronave decolando.

Letícia chegou a trocar mensagens com o namorado. Ela conta que o grupo chegou a fazer um pouso antes de retomar o voo e perderem contato. O empresário Raphael Torres também enviou uma mensagem de áudio ao filho dizendo que o tempo estava ruim e que a aeronave tentava pousar em Ubatuba (SP). A aeronave realmente fez um pouso, mas em uma área próxima à represa de Paraibuna (SP).
"Vi que você leu minha mensagem agora. Acho que vou para Ubatuba, porque Ilhabela está ruim. Não consigo chegar", disse o empresário em áudio enviado ao filho.
Em contato com o proprietário do heliponto onde faria o pouso, o piloto revelou que estava com dificuldades para cruzar a serra por causa do excesso de nuvens. Cassiano disse que tentaria elevar a altitude e que tentaria achar um "buraco" — jargão da aviação que significa um ponto de céu limpo.
Cassiano e o dono do heliponto se falaram novamente. O piloto voltou a reclamar das condições climáticas e disse que não estava conseguindo subir a camada de nuvens. Em seguida, o piloto afirmou que iria tentar voar por cima das nuvens. Às 15h13, O heliponto fez novo contato com a aeronave, mas não houve retorno.
Ainda no dia 31 de dezembro, às 22h40, foi gerado um alerta para o Comando de Aviação e para o Corpo de Bombeiros, já que não havia registro de pouso da aeronave ou possibilidade de contato com o piloto.

Desde então, a FAB tem procurado o helicóptero desaparecido. Segundo a corporação, no entanto, a área delimitada é de cerca de 5 mil quilômetros — o que dificulta as buscas.
No terceiro dia de buscas, o corpo de um homem foi localizado às margens de uma represa em Natividade da Serra, no Vale do Paraíba. Autoridades que participam das buscas suspeitaram que o cadáver pudesse ter relação com o desaparecimento do helicóptero. 
Porém, a Defesa Civil e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo afirmaram que não há nenhum indício de que o corpo encontrado às margens da represa em Natividade da Serra tenha relação com a aeronave que desapareceu.
Inicialmente as investigações iniciais apontavam para a possibilidade de o helicóptero estar em alguma área entre a Serra do Mar, que é uma região de floresta densa do bioma Mata Atlântica, e Caraguatatuba (SP), cidade vizinha ao arquipélago de Ilhabela.
Ainda nos primeiros dias, as buscas pelo helicóptero foram concentradas no litoral norte, Paraibuna, Natividade da Serra, Redenção da Serra, São Luiz do Paraitinga e Salesópolis.

Durante a segunda semana, a concentração das buscas foi voltada às cidades de Paraibuna, Redenção da Serra e Natividade da Serra, próximo à represa onde o helicóptero fez o último pouso registrado. 
No último sábado, 6, a Polícia Civil passou a utilizar drones na operação. No mesmo dia, foi identificado por meio da imagem do dispositivo um objeto suspeito entre as árvores. O helicóptero Pelicano, da polícia, foi ao local para ajudar na averiguação do objeto suspeito. Porém, na sequência, a corporação constatou que se tratava de um tronco de árvore.
Ainda nos sábado, uma antena instalada em Paraibuna captou sinais do aparelho celular de um dos passageiros. O sinal do aparelho estava na mesma região onde outro celular havia sido localizado anteriormente.
"Toda vez que é utilizado, o celular se comunica com uma antena e vai para uma central de comunicação. A gente sabe que essa área, dependendo da antena, pode ter um raio de um quilômetro a 10 quilômetros. Então a gente trabalha com uma área bastante vasta. A partir dessa informação veio a orientação das buscas iniciais, e agora a gente já está em uma fase de maior refino", explicou o delegado de operações especiais da Polícia Civil, Clemente Calvo Júnior.
Local em que helicóptero fez pouso antes de desaparecer em São Paulo  - Reprodução: TV Vanguarda/ Afiliada a Rede Globo
Local em que helicóptero fez pouso antes de desaparecer em São Paulo Reprodução: TV Vanguarda/ Afiliada a Rede Globo
Na terça-feira, 9, familiares dos passageiros decidiram contratar profissionais para fazer uma busca paralela. Além disso, os parentes contam com voluntários para tentar encontrar vestígios da aeronave. A equipe é composta, basicamente, por mateiros e por operadores de drones.
Até esta quarta-feira, 10, as aeronaves da FAB já cumpriram aproximadamente 122 horas de voo. "Coordenadas pelo SALVAERO Curitiba, as buscas, mesmo prejudicadas pelas condições meteorológicas e pelo relevo montanhoso na região, ocorrem desde a segunda-feira (01/01). A área total de buscas é de cinco mil quilômetros quadrados. O helicóptero ainda não foi localizado", diz a FAB em nota.
Piloto não tinha autorização para voo com passageiros
O piloto Cassiano Tete Teodoro, que conduzia os passageiros no voo do helicóptero que desapareceu no dia 31 de dezembro, não tinha permissão para realizar o passeio.
Em contato com a reportagem, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) informou que ''o profissional teve sua licença e todas as habilitações cassadas pela agência em 15 de setembro de 2021 por condutas infracionais graves à segurança da aviação civil. Na ocasião, o piloto recorreu à Justiça, que manteve a decisão da ANAC''.
Cassiano foi cassado em decorrência, entre outros motivos, de evasão de fiscalização, fraudes em planos de voos e práticas envolvendo transporte aéreo clandestino.

Em outubro de 2023, após observar prazo máximo legal para a penalidade administrativa de cassação, que é de dois anos, o piloto retornou ao sistema de aviação civil ao obter nova licença com habilitação para Piloto Privado de Helicóptero (PPH). Essa licença não dá autorização para realização de voos comerciais de passageiros.
Ainda de acordo com a ANAC, o helicóptero utilizado no passeio não tinha permissão para realizar o serviço de táxi-aéreo. "Em relação à citada aeronave, consta no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) que o helicóptero se encontra em situação normal de aeronavegabilidade, conforme registro em anexo, sem permissão para realização de serviço de táxi-aéreo", diz a agência em nota.