Ex-presidente do TSE à época, Alexandre de Moraes, foi monitorado por investigados na operação da PFMarcelo Camargo/Agência Brasil

O documento do PF que motivou a operação Operação Tempus Veritatis nesta quinta-feira (8), que investiga uma organização criminosa que atuou na tentativa de aplicar um golpe de Estado, detalhou como a minuta entregue pelo ex-assessor Especial de Relações Exteriores Filipe Martins, preso na casa da namorada em Ponta Grossa, no Paraná, destacava supostas interferências do Poder Judiciário sobre o Poder Executivo.
Entre as ações propostas na minuta, estava a prisão de autoridades, com ciência do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi alvo de mandado de busca e apreensão. Segundo o texto, divulgado pelo programa Conexão GloboNews, Bolsonaro teria sugerido alterações em outros elementos, menos na prisão então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
De acordo com a Polícia Federal, o documento com teor golpista pedia a prisão de autoridades como os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Bolsonaro, então, ao tomar conhecimento das medidas, teria pedido alterações dos nomes de Gilmar e Pacheco, mas manteve inalterada as partes que mencionavam a prisão de Moraes e o pedido de novas eleições.
Outro ponto destacado foi a solicitação de monitoramento de Moraes, para a eventual prisão, em caso de concretização do golpe de estado. Segundo o documento, uma equipe de investigação teria acompanhado os voos realizados pelo ministro no período compreendido entre 14/12/2022 e 31/12/2022 e comparado com dados colhidos pelos investigados.
Marcelo Câmara, ex-assessor de Jair Bolsonaro, teria trocado mensagens com Mauro Cid, detalhando os deslocamentos do ex-presidente do STF, Alexandre de Moraes, com o codinome "professora". Todas as informações, segundo a PF, coincidem com os trajetos do ministro. Veja alguns dos diálogos citados no documento da Polícia Federal:
"MARCELO CÂMARA envia uma mensagem a MAURO CID: 'Trabalhando'. Às 16h12, MAURO CID pergunta: 'Algo?'. No dia seguinte, CÂMARA encaminha mensagem com o itinerário de uma pessoa: 'Viajou para São Paulo hoje (15/12), retorna na manhã de segunda-feira e viaja novamente pra SP no mesmo dia. Por enquanto só retorna a Brasília pra posse do ladrão. Qualquer mudança que saiba lhe informo".

"Nos dias 21.12.22 e 24.12.22 MAURO CID questiona novamente MARCELO CÂMARA: ''Por onde anda a professora?'. CÂMARA responde confirmando a localização em São Paulo e informa: ''Volta no dia 31 a noite para posse'. Questionado por MAURO CID se 'Na capital ou no interior?', CÂMARA responde: 'Na residência em SP eu não sei onde fica'."
A PF ainda acredita que o ex-presidente teve participação direta na edição da minuta golpista. Outras conversas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid sugerem que Bolsonaro ajudou a redigir e editar o documento.

Em mensagens trocadas com o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, em dezembro de 2022, Cid afirma que Bolsonaro "enxugou" o texto. "Fez um decreto muito mais resumido", afirma o ajudante de ordens. "Algo muito mais direto, objetivo e curto, e limitado."
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), divulgou nota sobre o conteúdo da minuta. "Ação insensata encabeçada por uma minoria irresponsável, que previa impor um Estado de exceção e prisão de autoridades democraticamente constituídas. Agora, cabe à Justiça o aprofundamento das investigações para a completa elucidação desses graves fatos", disse. 
PF cumpre mandados em dez estados
No total, estão sendo cumpridos quatro mandados de prisão e 33 de busca e apreensão. O ex-presidente, Jair Bolsonaro e alguns ex-ministros e militares são investigados.
Além disso, a PF também impôs 48 medidas cautelares a outros investigados, que incluem a proibição de manter contato com os demais alvos de investigação, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas, e suspensão do exercício de funções públicas.
*Com informações do Estadão Conteúdo