Djidja, a mãe Cleusimar Cardoso e o irmão, Ademar CardosoReprodução/redes sociais

Amazonas - A mãe e irmão de Dilemar Cardoso Carlos da Silva, conhecida como Djidja e ex-sinhazinha do Boi Garantido, foram indiciados por tortura, tráfico de drogas, charlatanismo, cárcere privado e outros dez crimes. O resultado das investigações do inquérito civil que apurava o uso e distribuição da droga ketamina foi divulgado nesta quinta-feira, 20, pela Polícia Civil.
Djidja, de 32 anos, foi encontrada morta em sua casa, no dia 28 de maio, Manaus, capital do Amazonas. Dois dias depois, Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso foram presos. O laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) aponta que a morte da ex-sinhazinha foi causada por um edema cerebral que afetou o funcionamento do coração e da respiração. No entanto, o documento não revela o que teria levado a empresária ao quadro. 
Além da família da empresária, outras nove pessoas também foram indiciadas. A apuração foi conduzida pelo delegado Cícero Túlio, do 1.º Distrito Integrado de Polícia (DIP). Além desta investigação, há outro inquérito civil ainda em andamento na Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) que trata da causa da morte de Djidja Cardoso, classificada como "a esclarecer".
O grupo vai responder pelos crimes de:
- tráfico de drogas;
- associação para o tráfico;
- perigo para a vida ou saúde de outrem;
- falsificação, adulteração ou corrupção de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais;
- aborto provocado sem consentimento da vítima;
- estupro de vulnerável;
- charlatanismo;
- curandeirismo;
- sequestro e cárcere privado;
- constrangimento ilegal;
- favorecimento pessoal;
- favorecimento real;
- exercício ilegal da medicina;
- tortura com resultado morte.
O resultado do inquérito afasta a tese de que os investigados seriam "inimputáveis" em razão da dependência química. Ainda segundo a Polícia Civil, se Djidja estivesse viva ela também seria indiciada, pois integrava o esquema criminoso.
"Conseguimos identificar, a partir da análise de todo o conjunto probatório, em especial das mídias dos aparelhos telefônicos dos autores, que o Ademar figuraria como autor do crime de tortura em relação à Audrey (ex-namorada) e a sua ex-companheira, Gabriele, e a Cleusimar passaria a cometer tortura (com resultado morte) em relação à Djidja no momento em que eles percebem que a Djidja estaria numa situação de quase morte, em estágio terminal", explicou o delegado.
A investigação concluiu que a família Cardoso fundou uma seita religiosa chamada 'Pai, Mãe, Vida' praticou o crime de tráfico de drogas e induziu funcionários do salão de beleza da família, Belle Femme, a utilizarem as substâncias ketamina e potenay, um anestético e um tônico veterinários, respectivamente.
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, a família já fazia uso de substância entorpecentes como maconha, chá, cogumelos e sintéticos, mas a ketamina passou a fazer parte da rotina após Ademar ter morado um período em Londres com a ex-companheira, onde ele conheceu a droga.

"Lá, ele passa a torturar sua companheira, a obrigando a usar essa e outras substâncias até que, em razão de problemas com fornecedores de lá, ele acaba retornando ao Brasil, fugindo de criminosos de Londres, se separa da ex-companheira e conhece a Audrey, que figura como vítima desse procedimento", explica Cícero Túlio.
De acordo com o delegado, a ex-namorada de Ademar, Audrey Silveira, teria apresentado a ele um casal que fazia o uso da ketamina em pó, chamada special key. Já nesse momento, Cleusimar lia a obra Cartas de Cristo, seguida pela seita da família.

"Em determinado momento, esse casal é convidado a participar das reuniões (da seita), das meditações, como eles falavam, e esse casal apresenta o entorpecente para a Cleusimar. Ela, que tem vasto conhecimento em química, haja vista que é formada na área", afirmou o investigador.

A partir desse momento, a família passou a estudar a droga e concluiu que a aplicação injetável, na forma subcutânea, renderia mais usos. O passo seguinte foi o próprio consumo da ketamina e indução do uso pelos funcionários do salão de beleza.
Fornecimento
A investigação aponta que a família passou a ter dificuldades na obtenção da droga, até que o ex-namorado de Djidja Cardoso, o atleta Bruno Roberto, apresentou a todos ao personal trainer Hatus Silveira, que já fazia uso de substâncias veterinárias.

"A principal função do Hatus, com base no inquérito, seria o elo entre a família e o José Máximus, o administrador de uma clínica veterinária responsável por ceder esse tipo de medicação para a família. É ele quem insere também a substância potenay", pontuou o delegado.

Em meio a esse cenário, a ex-companheira de Ademar, Audrey Silveira, passou a ficar em uma "situação deplorável" sendo torturada e em cárcere privado, conforme o inquérito, até ser resgatada pelo pai, que a leva até a delegacia e registra uma ocorrência.
Clínica própria
Conforme o delegado Cícero Túlio, a família já planejava abrir uma clínica veterinária e construir uma "comunidade" na Zona Norte de Manaus, onde o uso da ketamina seria livre para todos os membros do grupo.
"Isso afasta a alegação de inimputabilidade dos autores. Eles tanto eram conscientes e tinham discernimento das práticas criminosas que arquitetam a criação de uma clínica veterinária para que pudessem adquirir esse produto com maior facilidade", disse.

A reportagem procurou a defesa da família Cardoso, que ainda não se pronunciou após a conclusão do inquérito, mas não houve retorno até o momento. Não foi possível localizar a defesa dos outros indiciados. O espaço continua aberto para manifestações.
Veja a lista divulgada pela Polícia Civil
- Ademar Farias Cardoso Neto, irmão de Djidja Cardoso.
- Cleusimar Cardoso Rodrigues, mãe de Djidja.
- Verônica da Costa Seixas, gerente do salão de beleza Belle Femme.
- Marlisson Vasconcelos Dantas, cabeleireiro do mesmo salão.
- Claudiele Santos da Silva, maquiadora do mesmo salão.
- Bruno Roberto, ex-namorado de Djidja.
- Hatus Silveira, se identificava como personal trainer de Djidja.
- Dois funcionários da clínica veterinária suspeita de fornecer cetamina para a família Cardoso.
- José Máximo de Oliveira, dono da clínica veterinária suspeita de fornecer cetamina para a família Cardoso.
*Com informações do Estadão Conteúdo