Morador de rua é alvo de ação truculenta da GCM em SPReprodução

Imagens feitas na manhã de sábado, 6, e compartilhadas pelo Padre Júlio Lancellotti nas redes sociais, mostram um grupo de agentes da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo agredindo um homem no centro da capital, durante uma ação de zeladoria feita pela subprefeitura da Sé, próxima ao viaduto do Glicério.
Nas gravações (feitas por um observador que presenciava a cena), é possível ver um homem sendo agredido pelos agentes e colocado com força dentro de uma viatura da GCM. Pessoas que presenciaram a cena chegaram a pedir para que os guardas parassem com os golpes, mas eram ignorados pela equipe da Guarda Civil Metropolitana.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou, via Secretaria Municipal de Segurança Urbana, que a GCM esteve no centro de São Paulo neste sábado para "prestar apoio a agentes da subprefeitura Sé em ação de zeladoria na retirada de lixo e lavagem da via", e que, durante a abordagem, "um homem desacatou a equipe e foi encaminhado ao 8º DP".

A pasta afirmou também que as imagens estão sendo apuradas, e que "não compactua com qualquer conduta que viole esses princípios". "Caso a conclusão da apuração de conduta seja irregular, medidas disciplinares serão aplicadas".

Em um dos vídeos, é possível ver um homem, com shorts, blusa e boné pretos, cercado por até cinco agentes. Os guardas tentam derrubá-lo com uma rasteira, e desferem pontapés, cotoveladas e golpes de cassetete. Durante o trecho gravado, o homem tenta se desvencilhar dos golpes, mas não reage à abordagem com violência

Em outra gravação, o mesmo rapaz de roupas pretas aparece sendo colocado com força no porta-malas de uma viatura da Guarda Civil Metropolitana. Na mesma gravação, é possível ver também outro homem, agachado na rua, e com o nariz sangrando. As imagens, porém, não mostram o que teria causado o ferimento nesta segunda pessoa.
A reportagem tentou contato com o Padre Júlio Lancellotti para comentar as imagens, mas o pároco não foi localizado. O Estadão também questionou a Secretaria de Segurança Pública, mas não teve retorno até a publicação da reportagem.

O caso acontece poucos dias depois do prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmar que a GCM teria autorização para "dar na testa" de quem "partisse para cima" dos agentes em ocorrências realizadas nas cenas de uso de crack, na chamada Cracolândia.

"A GCM não vai tratar com rosas quem está agredindo alguém", disse o prefeito durante uma agenda no final do mês. "Ali tem traficante, eles têm comando sobre essas pessoas (...) se vier pra cima da gente, vai tomar na testa", completou.

Na ocasião, ele estava criticando a decisão da juíza Gilsa Elena Rios, da 15ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, publicada no dia 24 de junho, em que proíbe a Guarda Civil Metropolitana de agir como a Policia Militar. A determinação da magistrada foi uma resposta à ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado (MP-SP) em 2017.

Em 20 de maio daquele ano, com bombas de gás e táticas semelhantes às da Polícia Militar, a GCM dispersou dependentes químicos do entorno da Praça Júlio Prestes, na Luz, região central, e prendeu traficantes.

Em seguida, o MP-SP pediu à Justiça que proibisse a GCM de adotar uma série de procedimentos. A Justiça negou alguns pedidos da Promotoria, mas acatou outros e proibiu o uso de munição não letal.

Ricardo Nunes já afirmou que vai recorrer da decisão. Para o prefeito, não cabe à Justiça decidir como a GCM deve se comportar na Cracolândia. "Não vejo como razoável uma juíza querer delimitar aquilo que especialistas da área definem. Não é o juiz que vai saber o que o guarda civil metropolitano (e) a Polícia Militar têm de usar. São eles (que vão saber o que usar), eles é que são especialistas", afirmou o mandatário.