Datena (PSDB), oficialmente, é candidato à Prefeitura de São Paulo Reprodução / Instagram

O apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) foi oficializado ontem como candidato à Prefeitura de São Paulo em evento marcado por tumulto. Na porta da Assembleia Legislativa, na zona sul, onde a convenção tucana foi realizada, houve bate-boca e militantes do partido que se opõem à escolha do jornalista e defendem apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca um novo mandato, foram impedidos de entrar. O ex-senador José Aníbal (PSDB) foi anunciado como vice na chapa de Datena.
"Parece que nasci para este dia. Meus anos de vida me prepararam para hoje (ontem)", afirmou Datena, que coleciona desistências eleitorais. "A força do partido está aqui dentro. Lá fora, são canalhas financiados todo mundo sabe por quem. Quem deu dinheiro para carro de som do povo lá fora? Esse prefeito 'pés de barro', não posso afirmar, mas será investigado. Financiou esses camisas pretas aí de fora", disse ele ao citar os manifestantes.
Militantes tucanos pró-Nunes foram barrados na entrada da Assembleia pela própria organização do PSDB. Parte do grupo invadiu o prédio, e a Polícia Militar foi chamada para reforçar o bloqueio. Assim que chegou ao local, Datena chamou os manifestantes de "bando de vendidos do Nunes". "Não duvido que tenha gente infiltrada do PCC (Primeiro Comando da Capital) aqui quebrando vidro."
A equipe de Nunes afirmou ao Estadão que as declarações de Datena "serão avaliadas pelos advogados da pré-campanha do prefeito para a tomada de possíveis medidas jurídicas".
'Marionetes'
Durante o evento partidário, Datena criticou seus adversários - Nunes e o deputado Guilherme Boulos (PSOL) - e citou os respectivos "padrinhos" ao afirmar que a polarização apenas interessa ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Aceitamos o voto do bolsonarista que não vai votar no Nunes porque sabe quem ele é. Aceitamos o voto do lulista que não votará no Boulos porque sabe quem ele é", declarou o apresentador, que ainda chamou o prefeito e o deputado de "marionetes".
'Paz'
Visivelmente incomodado com os protestos que ocorreram antes do início da convenção, o jornalista, batendo na mesa, ressaltou: "Não somos extremistas. Aqui nesse lugar não tem covarde".
O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, reforçou a necessidade de "buscar um caminho de paz", diante da atual divisão interna na legenda. "O PSDB não é um partido qualquer. É uma grife", disse Perillo, dirigindo-se a Datena.
"Eles que estão desesperados até ontem não acreditaram que o Datena seria candidato", continuou Perillo. O histórico de recuos e declarações dadas pelo apresentador de que poderia desistir da candidatura aumentaram a insatisfação da ala tucana que não aceita o nome do apresentador.
O presidente da federação PSDB-Cidadania na capital paulista, Mario Covas Neto (PSDB), disse esperar que todos os descontentes se juntem à campanha de Datena. O apresentador, no entanto, rebateu o correligionário: "Muitos não vão estar. Vão perder a mamata". O deputado Aécio Neves (PSDB-MG), que participou de recentes reuniões de pré-campanha com o jornalista, não compareceu à convenção.
Dissidentes
"Se encostarem a mão em mim, o bicho vai pegar", disse ontem o ex-presidente do diretório municipal do PSDB Fernando Alfredo ao Estadão. Ele lidera o grupo contrário a Datena no partido e, na semana passada, se lançou como pré-candidato a prefeito e recorreu à Justiça pedindo a anulação do processo que levou à indicação de Datena para representar a legenda na disputa municipal deste ano.
"A gente chega aqui e já tem essa barreira impedindo que a militância entre", reclamou Alfredo. "Estamos aqui para representar a militância que não concorda com a candidatura do Datena." Durante a confusão na porta da Assembleia, ele jogou adesivos de campanha de Datena no chão e pisou.
Segundo Alfredo, o movimento por uma candidatura alternativa no PSDB surgiu da preocupação de tucanos que, de acordo com ele, estão preocupados com a ausência de discussões internas sobre o rumo da legenda. O ex-dirigente chegou a chamar Datena para um debate, mas o jornalista recusou. "Sem chance. Se ele quer debate, que se candidate na próxima eleição", respondeu.
Antecipação
Para preservar o apresentador diante da ofensiva dos dissidentes, a federação PSDB-Cidadania se antecipou à convenção e homologou a candidatura de Datena na sexta-feira. Ontem, Aníbal, vice na chapa do jornalista, disse que, se Alfredo "não sair, ele será saído" do PSDB.
Esta é a primeira vez que Datena é oficializado como candidato. O jornalista já desistiu de concorrer em outras quatro eleições: duas municipais e duas para o Senado. Na disputa deste ano, antes de ser apresentado como candidato a prefeito pelo PSDB, ele era cotado para ser vice na chapa da deputada Tabata Amaral (PSB), agora sua adversária.