O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recebeu alta hospitalar neste domingo (14), comentou sobre a prisão do general Walter Braga Netto. Para o chefe do Executivo, o militar "tem todo direito à presunção de inocência". O ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro foi detido por obstrução de Justiça no inquérito que investiga um plano de golpe de Estado.
"O que aconteceu nesta semana com a decretação da prisão do general Braga, eu vou demonstrar para vocês que eu tenho mais paciência e sou democrático: eu acho que ele tem todo direito à presunção da inocência. Eu não tive, eu quero que eles tenham. Mas, se for provado o que eles estavam tentando fazer, um golpe neste país, terão que ser punidos severamente", disse.
"Todo direito e todo respeito para que a lei seja cumprida, mas se esses caras fizeram o que tentaram fazer, eles terão que ser punidos severamente. Esse país tem gente que fez 10% do que eles fizeram e foram mortos na cadeia", acrescentou.
O petista, que estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, apareceu de surpresa durante a coletiva de imprensa com a sua equipe médica.
O presidente também afirmou que não se pode aceitar desrespeito à democracia e à Constituição. "Não podemos aceitar, em um país generoso como o nosso, que haja pessoas tramando a morte de um presidente da República eleito, de seu vice e do juiz que era presidente da Suprema Corte Eleitoral", afirmou.
Lula, de 79 anos, passou por uma cirurgia de emergência para drenar um hematoma na cabeça - ainda em decorrência da queda que sofreu no banheiro de casa em outubro.
Com um chapéu na cabeça, o presidente afirmou que está "tranquilo", se sente bem e que seguirá à risca as recomendações médicas de não fazer esforço físico, mas que já retomará as suas atividades. "Tenho muito trabalho a fazer", ressaltou.
Braga Netto
Indiciado pela Polícia Federal (PF) no inquérito que investiga uma tentativa de ruptura democrática decorrente da derrota eleitoral do então presidente Jair Bolsonaro (PL), Braga Netto foi preso preventivamente or obstrução de Justiça. Trata-se do primeiro general de quatro estrelas preso desde a redemocratização do País. Ele foi ministro da Casa Civil e da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022.
Braga Netto é apontado pela PF como uma figura central na tentativa de golpe. Segundo o relatório do inquérito, as chamadas "medidas coercitivas" previstas no plano Punhal Verde e Amarelo, que incluíam o planejamento operacional para ações de Forças Especiais, foram elaboradas para serem apresentadas ao general. Entre outras ações, o plano previa o assassinato de Lula e Alckmin, além da prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
"Os elementos probatórios obtidos ao longo da investigação evidenciam a sua participação concreta nos atos relacionados à tentativa de golpe de Estado e da abolição do estado democrático de direito, inclusive na tentativa de embaraçamento e obstrução do presente procedimento", diz a PF.
O general da reserva é um dos personagens mais mencionados no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe, sendo citado 98 vezes. A operação resultou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros 36 acusados por três crimes: tentativa de abolição do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Segundo o relatório, as "ações operacionais para o cumprimento de medidas coercitivas foram planejadas em reuniões que ocorreram na cidade de Brasília, nos meses de novembro e dezembro de 2022". Ainda segundo os federais, em reunião do dia 8 de novembro, pouco depois do segundo turno da eleição presidencial, os militares investigados ajustaram a elaboração do plano que seria exibido a Braga Netto
A defesa de Braga Netto, no entanto, afirma que ele "não tomou conhecimento de qualquer documento relacionado a um suposto golpe, nem do planejamento de assassinato de alguém". Em relação à prisão de hoje, a defesa o militar nega "que não houve qualquer obstrução as investigações".
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