Presidente Lula mostra curativo durante entrevistaReprodução/TV Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu alta e deixou neste domingo (15) o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava em recuperação desde que foi submetido na madrugada de terça-feira a uma cirurgia de emergência para tratar uma hemorragia intracraniana. Ao programa Fantástico, da TV Globo, mesmo de chapéu, o chefe do Executivo mostrou dois curativos na frente e na parte de trás do crânio e afirmou estar "totalmente bem".
Conhecido por seu ritmo intenso de trabalho, Lula agradeceu a Deus por cuidar dele "tão generosamente" após o novo incidente, que se soma a um histórico de problemas de saúde, como um câncer de laringe em 2011 e uma cirurgia no quadril no ano passado.

Embora tenha se queixado de dores na cabeça devido à cirurgia, o petista, de 79 anos, no meio de seu terceiro mandato, disse ter "energia de 30 e tesão de 20", um lema que repetiu durante sua campanha.

Ainda assim, disse que não viajará para a praia durante as festas de fim de ano. "Eu nunca penso que vou morrer, mas tenho medo. Então, eu preciso me cuidar", ressaltou.
"Eu tenho que esperar cicatrizar o furo que eles fizeram para tirar o líquido. Um furo para tirar o líquido, outro para jogar soro e ir lavando o cérebro. Então... Está com vários curativos na cabeça", explicou .
Ele afirmou ter percebido a gravidade do quadro clínico depois de ter passado pelos primeiros exames de imagem, ainda em Brasília.

"Fiquei preocupado porque, afinal de contas, a cabeça é a parte mais delicada. Eu achei que estava fora de perigo, isso é a verdade. Achei que estava fora de perigo, porque a última ressonância que eu fiz mostrava que estava diminuindo a quantidade de líquido na minha cabeça. Mas era engano meu", destacou Lula.
De acordo com o cardiologista Roberto Kalil Filho, Lula ficará os próximos dias em São Paulo, para acompanhar a cicatrização e fazer uma nova tomografia na próxima quinta-feira, 19, e poderá retornar às atividades normais, "do ponto de vista de reuniões".
"O presidente está de alta hospitalar e não de alta médica", afirmou Kalil Filho. O médico também explicou que o presidente deverá manter repouso relativo por cerca de 15 dias.
"Vou ficar até quinta-feira, porque eu tenho que fazer uma nova tomografia. E eu quero fazer no mesmo lugar que fiz as outras. Aí, eu vou para Brasília para trabalhar normalmente", declarou Lula. 
"Eu vou me cuidar, vou me cuidar. Eu tenho muita responsabilidade, eu tenho muita disciplina, eu vou me cuidar. Tenho a Janja, que é uma fiscal, sabe, como é que chama aquele juiz que fica, o VAR, ela é o meu VAR, ela é quem vai, sabe, me obrigar a andar na linha, me cuidar. É isso, descansar", acrescentou.
A primeira-dama, Janja Lula da Silva, classificou o momento da cirurgia como "delicado". "Depois da noite em que a minha mãe faleceu, aquela foi a pior noite pra mim. Porque eu não sabia como a gente ia amanhecer o dia de terça-feira. Então, foi realmente momentos angustiantes de não saber o que que ia acontecer. Mas, graças a Deus, a gente está aqui hoje, ele está bem", afirmou Janja.
Mesmo antes de terminar todo o processo, Lula já faz planos para o fim de 2024 e 2025. O chefe do executivo ainda confirmou que fará sua próxima viagem internacional, programada para março, uma visita ao Japão.
Ele afirmou que quer fazer uma reunião com os ministros do governo e que avalia a possibilidade de participar do Natal dos Catadores, em São Paulo. Já para o ano seguinte, em março, o presidente se programa para uma viagem ao Japão.

"Quando eu chegar em março [de 2025], eu já tô totalmente curado. O que eles têm alguma preocupação é nos próximos 45 a 60 dias, até fechar os furos que eles fizeram", disse.
Críticas a alta da taxa de juros e defesa do pacote de corte de gastos
O presidente voltou a criticar a taxa básica de juros no Brasil e defendeu a necessidade de ações para impulsionar a economia. Na entrevista, Lula ressaltou que a elevada taxa Selic, atualmente de 12,25%, é um obstáculo ao crescimento e reafirmou seu compromisso com a responsabilidade fiscal.

O chefe do Executivo foi enfático ao afirmar que a taxa de juros é "a única coisa errada" na economia brasileira atualmente. Ele destacou o impacto negativo da Selic elevada no custo de crédito para empresas e consumidores, além de prejudicar o investimento e o crescimento econômico.

"Vou repetir: ninguém nesse país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu. Não é a 1ª vez que eu sou presidente da República. Eu já governei esse país e entreguei esse país crescendo 7,5%. Entreguei esse país com a massa salarial mais alta desse país. Entreguei esse país, sabe, numa situação muito privilegiada, e é isso que eu quero fazer outra vez. Não é o mercado que tem que ficar preocupado com os gastos do governo, é o governo. Porque, se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, quem vai pagar é o povo pobre", afirmou.
O petista também rebateu as críticas que têm sido feitas ao pacote de corte de gastos proposto pelo governo e que está em tramitação no Congresso. O presidente enfatizou que as propostas enviadas ao Legislativo buscam garantir equilíbrio nas contas públicas e reforçou que o governo é quem deve controlar os gastos, sem interferências externas.

"Nós fizemos aquilo que é possível, mandando [o pacote] para o Congresso Nacional. O compromisso com a responsabilidade fiscal é nosso. Quem sofre com gastos excessivos é o povo, e é isso que queremos evitar. (...) A única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%. Essa é a coisa errada. Não há nenhuma explicação", pontuou.

A agenda econômica do governo enfrenta um momento decisivo com a necessidade de aprovação, ainda este ano, das medidas para controlar o aumento dos gastos públicos. Lideranças do Planalto têm trabalhado para garantir que as propostas avancem no Congresso antes do recesso parlamentar, que começa no próximo dia 23 de dezembro.
O chefe do Executivo aproveitou para reafirmar que seu governo busca um equilíbrio entre responsabilidade fiscal e a promoção do crescimento econômico, mas deixou claro que a alta taxa de juros é um entrave nesse processo.

"Precisamos de juros mais baixos para que o Brasil cresça, gere emprego e alivie o peso sobre a população. Essa será uma prioridade no próximo ano", concluiu.

Ataques de Bolsonaro e prisão de Braga Netto
O retorno de Lula ao hospital nesta semana gerou dúvidas sobre a sua capacidade para lidar com os assuntos públicos e até mesmo sobre a possibilidade de ele concorrer novamente nas eleições presidenciais em 2026.

O petista parece ter tentado rebater de pronto essas especulações com um inesperado discurso político, ainda no hospital. O presidente reiterou os ataques ao governo de seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o qual comparou a uma "praga de gafanhotos".

Lula também comentou a prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro e aliado de Bolsonaro, por liderar uma suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente esquerdista.

O chefe do Executivo afirmou que gostaria que os acusados de golpe de Estado em 2022 - em uma citação direta à recente prisão de Braga Netto - tivessem amplo direito de defesa, algo que ele disse que não teve quando foi preso por ter sido acusado e condenado por crimes que foram apontados pela operação Lava Jato.
Na entrevista, o programa fez um histórico do que aconteceu, deixando claro que a afirmação do presidente estava imprecisa ou até errada.
"Presidente, se o senhor me permite, quando o senhor foi preso e condenado, o senhor passou por várias instâncias da Justiça. O senhor considera que nesse processo todo da justiça, todas as instâncias, o senhor não teve um direito de defesa?", questinou a repórter Sônia Bridi.
Lula repetiu que não teve direito de defesa. O programa então interrompeu a entrevista e explicou: "Quando o presidente Lula foi preso em 2018 no caso da cobertura do Guarujá, contou com participação da defesa dele em todas as etapas do julgamento. Na época, o entendimento do Supremo Tribunal Federal era de que condenados em 2ª instância poderiam ser presos. Esse entendimento mudou em 2019".
"Fiquei acompanhando notícias políticas com muita tristeza. Saber que pessoas que passaram a vida inteira recebendo dinheiro da União para cuidar da soberania nacional estavam tramando um golpe nesse país."

"É muito triste. É muito triste para quem começou a brigar pela liberdade democrática, ainda muito jovem, sabe? Quem participou da campanha das diretas, muito jovem, sabe? Que foi para a rua fazer as primeiras diretas desse país muito jovem. É muito triste saber que pessoas que chegaram ao cargo de General de quatro estrelas montaram uma máquina de saber. Moldado nesse país e queriam dar um golpe. Sabe?", disse.
"Eu perdi quatro eleições. Cada vez que eu perdia uma eleição, eu ia para casa chorar minhas marcas, reclamar e me preparar. Então, é muito grave o que eles fizeram. É muito grave. Eu fiquei chocado. Fiquei chocado. Eu vou te dizer uma coisa: Eu defendo que eles tenham a presunção de inocência que eu não tive. Eu quero que eles tenham todo o direito de defesa. Mas, se for verdade a das acusações, essa gente tem que ser punida severamente para que sirva de exemplo ao Brasil", reafirmou Lula.
Internação

A última estada hospitalar de Lula começou na segunda-feira (9), quando reclamou de dores de cabeça, sentindo que seus passos "estavam mais lentos, com os olhos vermelhos e muito sono", segundo ele mesmo contou aos jornalistas.

Após uma tomografia detectar uma "hemorragia intracraniana", o presidente foi transferido com urgência para o Hospital Sírio-Libanês, o centro de saúde mais renomado do país.

"Eu fiquei um pouco assustado pelo volume de crescimento da quantidade de líquido na minha cabeça e com a urgência que eles pediram para me deslocar" ao hospital, disse Lula.

O quadro era "extremamente grave", disse o médico Roberto Khalil à Globo, que citou a necessidade de "atendimento de emergência" e o "risco de acontecer o pior". A hemorragia que causou sua hospitalização foi resultado da queda que o mandatário sofreu em 19 de outubro, quando bateu a parte de trás da cabeça.

O acidente ocorreu enquanto Lula cortava as unhas das mãos sentado em um banco no banheiro do Palácio da Alvorada em Brasília, como detalhou neste domingo, afirmando que a pancada causou "bastante dano" em sua cabeça.

Nas semanas seguintes, o presidente cancelou viagens ao exterior, mas manteve seus compromissos no Brasil e, nos dias 18 e 19 de novembro, foi anfitrião da cúpula do G20 no Rio de Janeiro.
O presidente fez uma cirurgia de emergência para drenar hematoma na cabeça e depois passou por uma embolização. "O presidente está normal. Está muito bem e apto a praticar qualquer ato da vida civil. A única coisa é que há recomendação médica para que não se esforce física e mentalmente", garantiu o médico.