Um homem de 24 anos foi encontrado morto a tiros dentro de um carro na noite desta quarta-feira (25) em Mossoró, no Rio Grande do Norte. A vítima foi identificada como Jânio Gleidson Carneiro Sousa. Ele tinha sido preso pela Polícia Federal (PF) em 2024, suspeito de auxiliar os dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o corpo foi encontrado dentro de um veículo, com marcas de disparos de arma de fogo. O Instituto Técnico-Científico de Perícia (Itep) informou que ele foi atingido por pelo menos dois tiros na região da cabeça.
A perícia também levantou a suspeita de que os disparos tenham sido feitos de dentro do carro. A Polícia Civil vai investigar se o autor do crime estava no veículo no momento da execução.
Equipes da PRF, do Itep e da Delegacia de Plantão da Polícia Civil estiveram no local do homicídio. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML). O caso será investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Mossoró.
Jânio Gleidson Carneiro Sousa foi investigado por supostamente ir buscar um carro no Ceará e deixá-lo com outra pessoa no município de Baraúna, para dar apoio a Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, que fugiram da penitenciária federal de Mossoró em fevereiro de 2024.
O delegado Christiano Othon, afirma que o envolvimento dele com o auxílio aos fugitivos será considerado como uma das possíveis causas do assassinato.
"Ele teria participado da fuga, dando auxílio à fuga dos indivíduos que fugiram da Penitenciária e chegou a ser decretada uma prisão para ele, na época. É uma das linhas (de investigação) relacionadas e será apurada", disse.
Fuga
Os dois escaparam do presídio em 14 de fevereiro. Os dois deixaram o local de segurança máxima por volta das 3h da madrugada, quando teriam escalado até o teto através de uma lâmpada e, em seguida, cortado uma cerca. Ambos são envolvidos em guerras de facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas no Acre e têm ligação com o Comando Vermelho, uma das principais quadrilhas do gênero no país. Foi a primeira fuga do sistema penitenciário federal, criado em 2006.
No dia seguinte à fuga, foram encontrados pegadas e objetos que pertenceriam à dupla e foram usados para traçar o caminho que eles já teriam percorrido. De acordo com o 2º Batalhão da Polícia Militar (2 BPM), foram localizadas duas camisas, uma rede e rastros de sapatilhas semelhantes as usadas pelos internos no presídio federal. O rastro foi encontrado nos arredores da Serra de Mossoró, que fica próxima ao Rancho da Caça, localidade onde uma casa foi furtada na manhã da véspera.
Durante o período em que estiveram foragidos, Deibson e Rogério teriam contado com a ajuda de pessoas já do lado de fora do presídio. Pelo menos cinco foram presos. O último a ser detido foi o mecânico Ronaildo Fernandes, que teria recebido R$ 5 mil em sua conta para repassar aos fugitivos.
Fernandes é dono da propriedade em Baraúna, na divisa entre Rio Grande do Norte e Ceará, onde a dupla ficou escondida por oito dias. No local, os dois se refugiaram em uma cabana montada no meio da roça e cavaram buracos para escapar da vista de drones e helicópteros, que sobrevoam a região, que fica a cerca de 30 quilômetros do presídio. O mecânico foi preso preventivamente sob suspeita de ter colaborado com os presos. Ele alega inocência, dizendo que foi coagido a prestar o auxílio.
A Polícia Federal já havia prendido outros seis suspeitos de ajudar os dois fugitivos do presídio federal de Mossoró. Um deles é o irmão de Deibson Nascimento. Preso no Acre, Johnney Weyd Nascimento foi condenado por roubo e participação em organização criminosa e tinha um mandado de prisão em aberto.
Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento ainda fizeram uma família refém, pediram comida, queriam ver notícias sobre a fuga e roubaram celulares. A dupla ficou no local por cerca de quatro horas, não pediu dinheiro e fugiu a pé. As informações foram reveladas pelo jornal "Folha de S.Paulo" e confirmadas pelo Estadão.
Disfarces
A PF chegou a divulgar projeções que mostram possíveis disfarces usados pelos criminosos. A corporação trabalhou com essa nova possibilidade visual e são projeções de crescimento de cabelo, barba e uso de disfarces, as quais foram elaboradas por papiloscopistas do setor de Representação Facial Humana do Instituto Nacional de Identificação (INI) da Polícia Federal, em Brasília", disse o órgão na ocasião.
Conhecido como "Deisinho" ou "Tatu", Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos, é considerado um criminoso da "primeira leva" de batismos (quando um criminoso é aceito como membro da facção) do Comando Vermelho no Acre, no fim de 2013. Ele soma penas de mais de 60 anos, com acusações que se acumulam desde a adolescência.
Já Rogério da Silva Mendonça, apelidado de "Cabeça de Martelo" ou "Querubin", de 35 anos, entrou posteriormente na facção criminosa, em processo de expansão do crime organizado pela região Norte.
onforme o Ministério Público do Estado do Acre, as investigações ainda não conseguiram precisar quando ele ingressou no CV, mas o criminoso passou a ter papel importante dentro da prisão. Suas penas somam mais de 70 anos.
Diversas forças policiais foram mobilizadas para encontrar a dupla. A operação chegou a contar com cerca de 500 agentes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal Federal, Força Nacional, Corpo de Bombeiros, além de policiais militares dos Estados de Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Paraíba e Goiás, se revezando em turnos de dia e noite. Eles foram recapturados no dia 4 de abril.
Inquérito apontou falha de procedimento
A Corregedoria-Geral da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, concluiu relatório sobre a responsabilidade de servidores da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) na fuga.
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