Moeda Itajuru Reprodução
Na última sexta-feira (27), a prefeitura de Cabo Frio emitiu uma nota pública anunciando a substituição da empresa responsável pelo gerenciamento da moeda social Itajuru. Conforme o município, a medida teria sido tomada em caráter emergencial, devido aos “inúmeros problemas advindos do Termo de Colaboração n° 001/2021 firmado com o instituto gestor do Programa Social Moeda Itajuru, inclusive com a notificação por meio do Ofício n° 36/2024, que informa a suspensão dos serviços”.
A prefeitura também justificou que a nova contratação foi necessária para garantir a continuidade do programa de transferência de renda municipal, com a distribuição dos novos cartões começando nesta segunda-feira e se estendendo até terça (1°).
No entanto, o Instituto E-dinheiro Brasil, responsável pela gestão da Itajuru desde 2021, após vencer chamamento público, reagiu com firmeza à decisão da prefeitura. No fim de semana, a companhia divulgou uma nota sobre o caso, rebatendo as acusações e afirmando que a contratação de uma nova empresa foi feita de forma irregular e sem justificativas plausíveis.
Inicialmente, o Instituto declarou que a prefeitura acumula uma dívida expressiva com o Instituto E-dinheiro Brasil, referente aos serviços prestados no âmbito do Programa Moeda Social Itajuru.
A companhia também declarou que, desde outubro de 2021, a prefeitura não realiza os repasses financeiros, o que resultou em uma inadimplência que já ultrapassa R$ 1,2 milhão. Apesar disso, o Instituto pontua que continuou operando o programa de forma ininterrupta, mantendo os pagamentos aos beneficiários e o suporte aos comerciantes credenciados.
Além disso, o Instituto mantém um contrato vigente com o município até 2026, conforme o Termo de Colaboração 02/2023, após vencer o chamamento público para a gestão da Moeda. No entanto, na medida denominada como emergencial, a prefeitura contratou a nova empresa, a qual não teria expertise em moeda social e acumula mais de 874 processos no JusBrasil, pelo valor de R$ 469.200,00 para assumir a operação do programa.
O diretor do Instituto, Joaquim Melo, expressou sua indignação ao falar sobre o caso, afirmando: “Nós temos o contrato vigente com a prefeitura, que é o Termo de Colaboração 02/2023. Não foi feito nenhum processo administrativo para que haja um distrato desse contrato, e a prefeitura não pode contratar outra empresa com o mesmo objeto, enquanto as atividades do Instituto E-dinheiro estão sendo executadas de forma regular e contínua”. Ele destacou ainda que, apesar dos atrasos nos repasses por parte do município, a firma continuou operando normalmente, assegurando o pagamento dos beneficiários e o suporte aos comerciantes credenciados.
Outro ponto ressaltado pelo diretor é o dano causado ao erário público com a contratação emergencial de uma nova empresa, especialmente em um momento onde não havia nenhuma interrupção nos serviços. “Você tem um serviço que está sendo feito normalmente, com excelência… A prefeitura decreta uma emergência, quando não existe nenhuma emergência, pois as atividades estão sendo continuadas. Isso causa um dano enorme ao erário”, afirmou.
O Instituto também refutou veementemente as declarações da prefeitura de que teria suspendido os serviços. Melo foi enfático ao afirmar: “O Ofício 36/2024 foi enviado por nós ao município, alertando sobre o risco de insustentabilidade do projeto por falta dos pagamentos devidos pela prefeitura, e não uma notificação da prefeitura ao Instituto, como foi alegado”. A empresa alega que, apesar das dificuldades financeiras decorrentes da falta de repasses, nunca deixou de cumprir suas obrigações contratuais e que continua operacionalizando o programa em pleno funcionamento.
Os moradores também estão receosos com a mudança expressiva no conceito da Moeda Social Itajuru. Originalmente, o programa foi criado para fortalecer a economia local, incentivando o uso da moeda apenas nos pequenos estabelecimentos da região. No entanto, com a contratação da nova empresa pela prefeitura, a qual não passou por licitação, essa dinâmica foi alterada. Segundo Joaquim Melo, especialista no tema, “Agora, qualquer estabelecimento, inclusive grandes redes, poderá aceitar o cartão, o que descaracteriza completamente a proposta inicial da moeda social, que visava beneficiar os pequenos comerciantes e garantir a circulação da moeda dentro dos bairros”.
Além disso, o Instituto E-dinheiro Brasil afirma ser uma organização sem fins lucrativos. As taxas cobradas dos comerciantes cadastrados eram revertidas ao município para financiar projetos sociais. A nova empresa contratada pela prefeitura, segundo o Instituto, não segue esse modelo. Joaquim Melo, diretor do Instituto, destacou: “A Moeda Social Itajuru foi completamente desfeita. Hoje você pode até ter um programa de transferência de renda, mas não é mais em moeda social, pois as características que definiam o programa foram destruídas”.
O diretor também foi enfático ao afirmar que medidas jurídicas serão tomadas. “Nós temos que manter o sistema democrático, e vamos entrar com as medidas cabíveis. O setor jurídico já está alinhando as ações, e o mandado de segurança talvez seja a medida mais imediata, entre outras ações que serão tomadas”, declarou, destacando que a contratação da nova empresa foi realizada de forma ilegal, sem o devido processo administrativo para o distrato do contrato vigente.
O Jornal O Dia entrou em contato com a prefeitura de Cabo Frio, questionando sobre os novos fatos, e aguarda retorno.
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