Campos – “Tudo pode acontecer a qualquer momento e nada é igual a nada; cada crime é um crime; cada investigação é uma investigação, com suas descobertas individuais”. A manifestação é da delegada titular da 134ª Delegacia de Polícia Civil de Campos dos Goytacazes (RJ), Natália Patrão, cuja atuação tem contribuído para o montante de prejuízo causado pelo setor de segurança pública do Estado do Rio apontado pelo governador Cláudio Castro, ao crime organizado.
Castro comemora a constatação de que o Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) da Polícia Civil bloqueou mais de R$ 13 bilhões em bens e valores das organizações criminosas do Rio nos últimos três anos. O governador não dá detalhes sobre delegacias que contribuem para a matemática contra os criminosos; mas, pelos registros no período, a 134 DP de Campos soma de forma expressiva.
"Estamos conseguindo quebrar a cadeia econômica e financeira de movimentação das facções criminosas”, resume o governador. Natália Patrão comenta que cada êxito nas diligências é uma vibração de emoção diferente: “É como um filme de suspense policial que gera ansiedade do início ao fim, e termina com o caso resolvido”, pontua a delegada, cuja estratégia de trabalho é integrada com outras forças de segurança pública e a inteligência policial.
O diretor do DGCOR, Delegado Gustavo Ribeiro, contabiliza que somente este ano, 478 ativos foram recuperados, entre imóveis, fundos, criptomoedas e outros bens no Estado; o montante pode chegar a mais de R$ 40 milhões. Não há detalhes específicos; no entanto, a 134ª DP pode ter participado com mais de R$ 5 milhões, em bloqueios para ressarcimentos a vítimas dos criminosos e ao erário público.
A mais recente investida de Natália Patrão e sua equipe no combate às organizações criminosas os levou ao Paraguai. Aconteceu no dia 23 de novembro, sendo preso casal integrante de uma quadrilha que praticava pirâmide financeira desde 2016, aplicando golpes em clientes, sob promessa de investimentos no mercado financeiro de criptomoedas. Somente nesse episódio foram bloqueados R$ 2 milhões da organização.
AÇÃO NO PARAGUAI - A linha de trabalho em conjunto praticada por Natália Patrão facilitou à chegada aos dois golpistas; eles foram localizados na cidade de Si Hernandarias, a 25 quilômetros da divisa com Foz do Iguaçu. A operação contou com apoio da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) do Paraguai; Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP); e Departamento de Operações de Inteligência do Sistema Penitenciário (DIOSP).
As investigações aconteciam há algum tempo, com duas pessoas já tendo sido presas, buscas e apreensões de jóias, carros de luxo e a descoberta de que os criminosos fazem parte da mesma família. A delegada levantou ainda que contra a organização há 75 anotações criminais no Estado do Rio, contabilizando um prejuízo total de quase R$ 5 milhões, parte ao setor fazendário estadual.
A autoridade policial temida pelo crime organizado em Campos tem 38 anos de idade; casada, dois filhos, avalia como é exercer a profissão sendo esposa, mãe e dona de casa: “É Bem difícil, pois, além disso, a atividade física ainda é meu remédio emocional indispensável que também consome tempo; porém, tenho uma rede de apoio de parentes e colaboradoras que abraçam a causa comigo, cuidam no meu lar e dos meus filhos com muito amor”.
Para reforçar, a delegada exalta que o marido é compreensível e aplaude seu sucesso, completando em casa o que ela não consegue cobrir, sendo seu esteio. O espírito de liderança é sustentado pelo bom relacionamento com a equipe de trabalho: “No relacionamento humano, procuro conduzir os servidores com autoridade e não com poder, o que envolve afeto, respeito e cuidado, virtudes indispensáveis a líder que decidi ser, disposta a servir pra ser servida”
POR VOCAÇÃO - Outro fator que Natália releva é a estrutura física de trabalho na delegacia; para primar pela excelência, a autoridade busca parcerias, de acordo com as necessidades, com a Empresa de Obras Públicas (EMOP), Ministério Público do Trabalho, Juizado Especial Criminal (JECRIM), empresários privados, governo municipal e órgãos que ofertam doações de diversos gêneros à unidade.
São 13 anos de polícia, sendo um e meio como Oficial de Cartório da Polícia Civil do Rio de Janeiro, o mesmo tempo delegada do Estado do Espírito Santo e 10 anos na 134ª DP, os dois últimos na titularidade. É policial por vocação: “Amo o que eu faço pelo dinamismo, por não saber o que eu vou fazer no dia de trabalho; só sei que vou trabalhar amanhã, mas não sei em que”, realça Natália Patrão.
Primeira mulher a assumir uma delegacia de polícia em Campos, Natália Patrão, já tendo sido homenageada por entidades de classe, Câmara Municipal e até a Assembleia Legislativa (Alerj) que, em outubro de 2021, concedeu à delegada a Medalha Tiradentes, maior honraria do Parlamento Fluminense. “Ela é competente e dedicada”, ressaltou na época o deputado estadual Bruno Dauaire, autor da proposta aprovada por unanimidade.
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