Fernando Mansur - colunistaSABRINA NICOLAZZI

A psicanalista junguiana Clarissa Pinkola Estés é a autora do best-seller "Mulheres que correm com os lobos", mas o livro dela que terminei de ler é o lírico e singelo "O jardineiro que tinha fé".
Clarissa conta a história de um tio húngaro muito querido que conseguiu escapar da guerra e ir para o novo mundo encontrar seus parentes de lá. A casa da família era cercada de árvores, animais e pássaros de várias espécies. Um verdadeiro Jardim do Éden. Só que aquele paraíso estava destinado a se tornar um inferno, pois o governo decidira passar uma estrada por ali, o que causou revolta e desespero. Depois da revolta, o tio teve uma ideia: fazer uma "queimada" em um pedaço da área devastada.
O que poderia nascer do monte de cinzas que restou?
Clarissa, então uma criança, pergunta: "O que o senhor vai semear aqui?"
"Não vou semear nada. Durante um tempo vamos deixar a terra nua e sem semear, para ser um convite."
Tio Zovár explicou que os pinheiros e os carvalhos não se dispõem a nascer nos campos e formar novos bosques se não deixarmos a terra sem semear. As árvores, disse ele, não viriam se a terra fosse logo cultivada. "As sementes da vida nova não encontrarão nenhuma hospitalidade nem motivo para pousar aqui, a menos que a deixemos nua para que uma floresta de sementes a considere hospitaleira."
Como as sementes pousariam naquele campo? Elas seriam transportadas na boca de pequenos animais que talvez soubessem que esse campo estava à espera.
E assim foi. Depois de algum tempo, uma nova minifloresta fez nascer um novo Jardim do Éden naquele espaço antes árido.
Assim também se dá conosco. Às vezes precisamos esperar um pouco, até que o solo de nossas vidas esteja pronto para receber as sementes que farão germinar um novo sonho, não importa que fogo as tenha arrasado.