Fernando Mansur - colunistaSABRINA NICOLAZZI

A casa era bonita, bem situada e com um jardim junto à parede lateral esquerda. O local, alugado, funcionava como uma bem dinâmica Academia de Dança e de Pilates.
Mesmo de longe era possível distinguir a luminosidade da sala, com seus muitos alunos se revezando em turnos. O jardim, porém, fazia tempo que estava abandonado. Ervas daninhas tomavam conta daquele espaço, antes – possivelmente – igualmente radiante.
O que teria levado o proprietário do imóvel a deixá-lo chegar àquele estado? Esperava que algum inquilino tomasse a iniciativa de restaurá-lo? Pode ser. Falta de sensibilidade? Quem sabe! Mas o fato é que a cena recorrente feria os olhos dos passantes mais sensíveis e dos alunos da Academia que conviviam de perto com aquele cenário deprimente.
Um dia, porém, o proprietário resolveu fazer uma surpresa e contratou jardineiros para limpar o terreno e replantar as flores exiladas. Nesse dia, podia-se ouvir suspiros de alívio e de contentamento, de plantas e de pessoas.
Nesse dia também, ao olhar pela janela da Academia e ver as ervas daninhas sendo arrancadas, pensei comigo: Como é bom ver isso acontecendo! Como é salutar quando se limpa um lugar sujo e contaminado! É um ato de respeito.
Então, ato contínuo, me ocorreu um insight eletrizante: pensei nos entulhos mentais que acumulamos durante anos, sem nos darmos conta de que são como ervas daninhas que nos consomem e sufocam, e contaminam os ambientes.
Foi esse choque que me levou a chegar em casa e escrever imediatamente este texto, para não me esquecer de que preciso esvaziar e limpar muitas gavetas mentais, abarrotadas de ‘papéis’ velhos e já inúteis, que continuam ocupando um espaço precioso, onde deveria haver um jardim de pensamentos limpos e flores viçosas, banhado pela luz benfazeja do sol, onde os amigos naturalmente chegariam e se sentiriam tão bem quanto em uma boa e revigorante aula de dança ou de Pilates.