Fernando Mansur - colunistaSABRINA NICOLAZZI

Assisto a um documentário sobre a pintora mexicana Frida Khalo. Vida sofrida, entremeada de prazeres fugazes. Luta por sua independência pessoal, enquanto observa os valores e desvalores à sua volta. Encanta-se quando descobre que “as cores têm vida e ajudam pessoas a viver”. Viva la Vida! É desta expressão de Frida que vem o título da vibrante música do Coldplay.
O marido de Frida, o renomado pintor Diego Rivera, diz certa hora que ele tem um enorme defeito: quando gosta muito de uma mulher, faz de tudo para feri-la. E ele amava Frida, tanto que casou com ela duas vezes. Talvez ambos carecessem de uma terapia apropriada que os ajudassem a aprender a não se ferirem com tamanha intensidade.
E aquelas existências terminam e Frida lamenta: quantos quadros ficaram por serem pintados, e quantas novas vidas serão necessárias para se completar a exposição?
Terminando de ler “Jung, Vida e Obra”, de Barbara Hannah, me deparo novamente com a sensação inevitável de finitude. Depois de viver mais de 80 anos e de trabalhar incansavelmente para tentar desvendar os mistérios da psique humana, é natural querer descansar. Pessoas muito queridas partiram antes dele. Sofrimentos transbordam daquelas páginas finais, de um livro em cuja maior parte a autora narra a saga de um ser iluminado, predestinado a fazer uma significativa mudança no mundo. “O que a natureza deixa imperfeito, a arte aperfeiçoa”, dizem os alquimistas.
A morte da esposa o marca profundamente, mas Jung precisa concluir uma obra fundamental, então passa “a dedicar toda sua energia para concluir o propósito que ele ainda tinha que cumprir” (p. 449).
Nosso dever é o que precisamos fazer, a fim de partirmos com a consciência tranquila. Enquanto existe vida, há tarefas a realizar. Realizá-las é uma dádiva que devemos fazer por merecer. Todo dia, com alegria. Podemos. Vamos!