Arte Paulo MarcioiArte Paulo Marcioi

Para quem crê na reencarnação, todos nós temos como nos comunicar com os que já fizeram sua passagem deste planeta para outra dimensão. Somos todos capazes de nos comunicar com os mortos. Fenômeno sobrenatural? Não! É uma habilidade física, ligada à glândula pineal, no cérebro.

Essa glândula capta o sinal de outra dimensão como uma onda magnética que produz percepções. E qual é a diferença de cada um de nós? É a sensibilidade para entender essas percepções, analisa José Eduardo Coutelle. Alguns dizem que nada mais é do que uma intuição sem explicação. Outros, que se trata de pressentimento. O que faz, contudo, que uma pessoa seja considerada médium? Quando se manifesta de maneira clara, ostensiva, quando os demais que estão ao seu redor também percebem essas manifestações: sentir, ver, ouvir, falar ou psicografar.

Não existe idade determinada para o início dessas manifestações. Aliás, nem precisar invocar o Espiritismo. Ao longo da história da humanidade sempre existiram registros de comunicação com espíritos. Xamãs recorriam aos curandeiros. Profetas retransmitiam mensagens divinas. Sem falar nas adivinhas, as pitonisas, que viam o futuro. Foi Allan Kardec, entretanto, no século 19, que estudou esses fenômenos de forma rigorosa.

Aí teve início a codificação da Doutrina Espírita que englobava a imortalidade da alma e a evolução por meio de reencarnações. O processo reencarnatório só se encerra por volta dos 7 anos de idade. Até lá, a criança está ligada tanto ao mundo espiritual quanto ao físico. Por isso, é na infância que mais ocorrem casos de comunicação desse tipo. Isso não significa que ela seja médium – o título só será confirmado no restante da vida -, se ela demonstrar essa capacidade claramente.

As ocorrências de mediunidade tendem a intensificar-se logo que a criança aprende a falar, continua José Eduardo Coutelle. Visões e audições são as manifestações mais comuns e podem ocorrer juntas. Na maioria das vezes, o pequeno não tem medo algum e não entende por que seus pais também não conseguem ver a presença que ele percebe.

Crianças não compreendem o conceito de morte e por isso encaram a “companhia” com naturalidade, como uma “fantasminha camarada”. Na infância, as interações são positivas. É comum, por exemplo, bebês rirem sozinhos, olhando para o “nada” (cães são craques em latir de repente para o vazio).

Essas crianças, em muitos casos, podem estar vendo amigos de vidas passadas ou espíritos protetores. Sem falar nas visitas de parentes falecidos ou de amiguinhos espirituais que assumem uma fisionomia mais infantil. Em alguns casos, o contato pode revelar lembranças pregressas: a criança reconhece gente da encarnação anterior, diz Coutelle.

Para Léon Denis, filósofo francês espírita, a mediunidade também pode estar por trás de prodígios precoces. Casos de genialidade podem ser manifestados, mesmo de forma inconsciente, pelo estímulo de espíritos. As “assombrações” (que alguns chamam de “obsessões”) são mais raras nessa fase da vida. Na maioria das vezes, são espíritos sofredores que habitam o mesmo local que a criança. Mesmo que não desejem causar mal, podem provocar medo. Há também os que querem assustá-la para punir alguém da família por alguma dívida passada.
Como identificar se um “amiguinho” invisível pode ser mesmo um contato espiritual? Segundo estatísticas, três em cada dez crianças apresentam “amigos invisíveis” – algo encarado com naturalidade pela Psicologia. Então, como diferi-los de um evento mediúnico? Para a espírita Marta Antunes, não há uma receita: o fundamental é que os pais observem o comportamento dos filhos e conheçam bem sua personalidade e hábitos.

E se as visões forem sinal de uma doença psiquiátrica? É raro: esquizofrenia só acomete uma em cada dez mil crianças. E traz indícios mais fáceis de detectar, como desejo por isolamento, depressão, mudanças repentinas de humor… Além disso, as “vozes” ouvidas costumam ser ameaçadoras e a criança tem dificuldade de relatar o fenômeno para os adultos.

A principal dica é abordar o fenômeno com tranquilidade, até porque ele passa com o tempo. Para a educadora espírita Martha Guimarães, os pais devem encarar os relatos com naturalidade. Se eles entram na “brincadeira”, a criança fica à vontade para dar mais dados sobre o “amigo invisível”: nome, aparência, idade… Em alguns casos, ela pode até identificar nos álbuns da família a imagem do espírito como sendo a de um parente já falecido.

Nada de incutir medo, como aludir a figuras como “bicho-papão”. Evite dizer que “isso é coisa do capeta” ou que as vozes são “do demônio”. Além de apavorar a criança, ela poderá achar que está sendo possuída. É importante achar um equilíbrio. Se os adultos acusarem a criança de mentir, ela pode começar um processo de negação da mediunidade e acreditar que é louca. Também não devem incentivar demais a habilidade, para que ela não perca interesse pelo mundo físico para forjar relatos de contatos só para agradá-los.

Átila Nunes