Alguns antropologistas sugeriram que a noção de espiritualidade e de alma é consequente à necessidade do homem primitivo de explicar como sua essência poderia deixar temporariamente o corpo durante o sono e de forma permanente na morte. O sono é a retirada do espírito, é o abandono provisório das partes exteriores do corpo, que, neste momento, tem vida vegetativa. O homem fica num estado de insensibilidade, mas suas funções estão preservadas.

O sono é um fenômeno de ordem exclusivamente física, pois só o corpo repousa. A emancipação da alma se produz sempre durante o sono. Quando o corpo repousa e os sentidos ficam inativos, o espírito se desprende. Nesses momentos, vive uma vida espiritual e o corpo, uma vida vegetativa. Seu estado é semelhante ao que vive após a morte: percorre o espaço, conversa com amigos e outros espíritos, encarnados ou não.

Essa emancipação do corpo é parcial; qualquer que seja a distância a que se transporte, conserva-se preso sempre àquele por um laço fluídico que serve para fazê-lo voltar ao corpo. Este laço só se rompe com a morte. As atividades do espírito durante o sono reagem sobre o corpo e podem fatigá-lo, pois a ligação entre ambos não é rompida e, sim, apenas atenuada. Um influencia o outro.

O espírito se comunica com outros durante o sono e, ao acordar, se lembra do que aprendeu. Da mesma forma, um espírito pode revelar a outro o objeto de nossas preocupações no estado de vigília. As ideias que geralmente esquecemos podem ser conselhos de outros espíritos. No sono comum, o espírito se afasta pouco, ficando ligado ao corpo. O espírito de algumas pessoas continua a trabalhar durante o sono, podendo realizar obras significativas, como também aparecer para outras pessoas.

Os espíritos, durante o sono, podem juntar-se a outros que lhes são superiores. Com eles, viajam, conversam, trabalham e se instruem. Estes são os espíritos elevados. Podemos encontrar amigos e parentes encarnados, mesmo os que não conhecemos, durante o sono. Quase todas as noites fazemos essas visitas que são úteis, pois também nos reunimos em assembleias espirituais.

O espírito encarnado pode também se manifestar através de um médium enquanto seu corpo dorme. É aí que nos confrontamos com nossos desafetos que nos perseguem e atormentam, podendo até serem chamados ("invocados") por eles, encarnados ou desencarnados. À medida que prossegue o fenômeno encarnatório, um espírito se mostra cada vez mais inconsciente. Após o desencarne, o espírito acorda no mundo espiritual como se estivesse emergindo de um sono profundo. Durante o processo de morte, recapitula toda a sua vida.

Espíritos adormecidos, mergulhados em profundo sono, são recolhidos a pavilhões específicos em instituição espiritual, onde recebem assistência. Raríssimos pareciam dormir um sono natural. Geralmente são espíritos que nunca se entregaram ao bem e que acreditavam que a morte era o fim de tudo.

Um espírito adiantado ou incumbido da missão de prever o futuro pode ter a faculdade de enxergá-lo durante o sono. A clarividência é a faculdade da alma, capaz de perceber os acontecimentos passados e futuros. Esse dom se exerce através do tempo e da distância. O sono magnético tem várias graduações, desde o sono ligeiro até o êxtase e o transe. No transe, o estado é favorável às manifestações espíritas como as materializações.

Quanto mais profundo o sono, maior é a liberação da alma. Nesses momentos de transe, pode haver o fenômeno das incorporações, quando um espírito encarnado ou não pode se comunicar. O médium não recordará nada do que aconteceu com seu corpo. Há relatos de pessoas que afirmam terem saído de seu corpo e realizado atividades enquanto dormiam. Esse processo pode ser voluntário ou não.

Como vemos, muita coisa ainda há por se pesquisar e esclarecer a respeito do sono. Muito pouco se tem investigado. os espíritas e da ciência contemporânea. A medicina não aceita a existência do espírito. Nos resta investigar o processo sob a ótica espiritual. Também para o Espiritismo, o ser humano é um ser complexo, onde matéria e espírito interagem.

Átila Nunes