'Muito a sua cara. No Centro". A mensagem, enviada no início de uma quinta-feira à noite, no fim de novembro, surgiu no meu WhatsApp de maneira afetuosa e foi a deixa para eu rever uma grande amiga da faculdade. Em anexo, ela havia encaminhado um post sobre uma exposição cheinha de corações, em exibição no Solar dos Abacaxis, na Rua do Senado. Não demorou muito para aquele recado do mundo virtual se transformar em um encontro de fato, na primavera de um Rio de Janeiro já com cara de verão.
Desde que recebi a mensagem, fiquei pensando na crônica que escrevi há pouco tempo, com inspiração nos corações que tenho pintado de forma amadora. Ainda sou aprendiz nessa arte e também na missão de entender as minhas sensações — acredito que serei eternamente assim. Posso até me assumir monotemática ao escrever mais uma vez sobre corações e, na verdade, suspeito que eles estejam presentes em todos os meus textos. Afinal, as minhas palavras só nascem do que sinto.
Também posso confessar que, de alguma forma, tento encontrar nas entrelinhas um lugar aconchegante para os meus afetos. Assim como os mais de 300 corações daquela exposição pareciam estar em sintonia nas paredes do Solar, mesmo sendo tão diferentes entre si. A exposição trazia várias criações, de diversos talentos, em homenagem à artista Rochelle Costi, que em 2022 "fez a passagem para ser amor em outras dimensões", como dizia o texto de abertura da mostra. Achei lindo e entendi perfeitamente porque também acredito que a morte não interrompe o amor.
Ao ver as paredes da mostra, fiquei encantada com a percepção de que nossos corações não estão sozinhos e que podem sentir o mundo de maneiras tão diferentes. Logo os meus pensamentos viajaram pelos elos que criamos com quem está ao nosso redor. Eles também são um ótimo achonchego, para momentos alegres e outros nem tanto. Não à toa, um dos corações era formado por várias fitinhas em que se lia a palavra 'memories' (recordações, em português). Afinal, antes mesmo de nascermos, já somos construídos de lembranças que viram narrativas na voz de quem nos cria. E assim continuamos vida afora... Eu, por exemplo, tenho várias memórias com essa amiga da faculdade.
Foi ela, aliás, quem reparou em um outro coração da mostra onde se lia: "Amar não dói". E também em outra obra que reproduzia um cérebro, simbolizando a nossa tentativa de racionalizar o que sentimos. Eu fui atraída por outro coração, bem colorido, dentro de um espelho em que me vi refletida. Peguei o celular e registrei a imagem como forma de me lembrar das tantas vezes em que buscava me amar e me encontrar. Nesses momentos, os amigos também deram o carinho de que tanto precisava.
Em determinado momento, eu e minha amiga tiramos uma selfie juntas na exposição e, ao conferir o clique no celular, reparei que a luz do local projetava uma iluminação em forma de coração nas paredes. Na vida também é assim: muitas companhias clareiam os nossos passos em vários momentos. Não foi à toa que ouvi recentemente uma frase muito marcante: "Não é fácil ter amigos. Se você os tem, cultive-os".
De certa forma, esse também foi o tema do nosso brinde em um rápido almoço com mais duas amigas dela, logo após a exposição. Com copos cheios de refrigerante ou água, demos um viva ao amor de todos os tipos! Especialmente o das amizades que nos fazem seguir adiante, que iluminam nossa estrada e nos conhecem bem a ponto de dizer: 'É a sua cara!'. Ou até mesmo: 'Tem o jeitinho do seu coração'.