Em entrevista à Coluna Andrei Lara, Gkay fala sobre autoestima, amadurecimento e a responsabilidade de representar o Salgueiro como musa no Carnaval 2026Foto: arquivo pessoal

Carismática, irreverente e agora também musa do Salgueiro, Gkay vive uma nova fase que combina maturidade pessoal e reinvenção artística. Entre o humor, a moda e o samba, ela se consolida como uma das personalidades mais marcantes da nova geração digital. Nesta entrevista exclusiva à Coluna Andrei Lara, a paraibana fala sobre autenticidade, saúde mental, reconstrução de imagem e o desafio de representar uma das escolas mais tradicionais do Carnaval carioca.


Andrei Lara: Seu Instagram é a central do seu storytelling. O que entra de propósito na sua bio e nos seus posts hoje — e o que você deixou de postar por estratégia?

Gkay: Minha estratégia sempre vai ser minha vida. Eu trago realidade para as minhas redes sociais, ela acompanha as fases da minha vida. Diariamente mostro o meu estado de espírito, esteja feliz, triste, introspectiva, como qualquer pessoa. E há dias em que simplesmente prefiro ficar no off-line. 
Andrei Lara: Você é da Paraíba, mora em São Paulo e tem eventos no Nordeste. Como essas geografias moldam a Gkay-empresária e a Gkay-artista?

Gkay: A essência da Gkay é uma só. Isso geografia alguma altera. O que ocorre são adaptações, de acordo com o perfil de situações ou evento, se artístico ou corporativo, por exemplo. A mudança de estado ocorreu por questões profissionais. Em São Paulo, aumentei a produção de conteúdo e fiz novas conexões. Mas, mesmo fora do país, na Semana de Moda, a raiz da Gkay da Paraíba está sempre presente. A Gkay empresária só nasceu porque a Gkay artista chamou atenção de parceiros comerciais, que abriram portas para grandes negócios. Hoje posso falar, com muito orgulho, que alcancei estas metas.

Andrei Lara: Você falou abertamente sobre reverter procedimentos e sobre a pressão estética. Qual foi o ponto de virada e como isso mudou sua relação com a câmera e com o espelho?

Gkay: Eu sempre tive uma boa relação com a câmera e o espelho, mas eu sinto que minha autoestima melhorou bastante a partir do momento que comecei a me cuidar mais e olhar mais pra mim. Senti que não era mais eu ali, depois de exagerar nos procedimentos, e decidi retirar alguns para me sentir mais natural mesmo. Atualmente, me sinto na minha melhor fase.

Andrei Lara: Que ferramentas de saúde mental você pratica no dia a dia (terapia, detox digital, limites de exposição)? O que diria a uma criadora que está no mesmo loop de cobrança estética?

Gkay: Depois de muitos anos na internet, ficamos mais calejadas (rs). Mas os exercícios físicos e a terapia vêm me ajudando muito a focar no que realmente importa. Para quem está chegando, eu diria para buscar ter uma vida fora da internet, e claro, ferramentas para manter sua saúde mental em dia.

Andrei Lara: Você já passou por tsunamis de opinião. Qual é seu protocolo interno para atravessar crises: quem decide, como você se comunica, quando silencia e quando fala?

Gkay: Depende muito de cada situação, mas aprendi a lidar. Eu mesma tomo frente, pois tem que ser sincero. Busco rever minhas atitudes e não tem problema nenhum em me posicionar quando erro. Caso magoe alguém, me desculpo.

Andrei Lara: Agora você é musa do Salgueiro. O que significa para você assumir esse papel dentro do samba, dessa escola tão importante para o Rio e para a cultura brasileira?

Gkay: O Salgueiro é tradição! É uma responsabilidade enorme assumir este posto tão importante na escola de samba. Fiquei extremamente honrada com o convite e estou me dedicando diariamente, nos treinos, aulas de samba e estudando toda a história do Salgueiro, pois acho muito importante essa conexão com a escola. Venho ganhando muita bagagem e vou unir tudo isso para entregar na avenida. O Salgueiro merece!

Andrei Lara: Sua relação com o Carnaval sempre teve um caráter de festa, humor e espetáculo. Como você imagina seu papel artístico no universo do samba — como musa, rainha, participações em desfiles?

Gkay: Eu sempre amei o Carnaval. Já assisti desfiles, participei de blocos e festas pelo Brasil — é uma energia absurda! Agora é diferente, tudo ainda muito novo, como em qualquer estreia. Trago uma responsabilidade, pois faço parte da imagem da escola na avenida. É uma maratona física e mental. Tenho que mostrar meu desempenho e estar sempre radiante, para chegar ao grande objetivo, que é a vitória do Salgueiro.

Andrei Lara: Que elementos da sua identidade — origem, estética, discursos — você pretende levar para o Salgueiro e para o Carnaval 2026?

Gkay: Levar minha identidade para o Salgueiro e para o Carnaval 2026 é levar minha origem nordestina, mais especificamente paraibana, que influencia minha força, minha criatividade e minha forma de ocupar espaços. É essa raiz que pretendo honrar, celebrando o Nordeste não apenas como um território, mas como um imaginário potente, cheio de cultura, resistência e beleza.

Esteticamente, busco trazer uma fusão entre o popular e o contemporâneo. Quero explorar uma linguagem visual que dialogue com a moda, com o humor, com o exagero performático que sempre marcou minha trajetória pública, mas com um olhar mais artístico e simbólico. Brilho, cor e irreverência continuam presentes. Nos discursos, o que me move é a possibilidade de amplificar vozes. Quero usar minha presença para reafirmar a potência das mulheres nordestinas, com um discurso que seja inclusivo, afetivo e que provoque reflexão, tudo isso sem abrir mão da alegria, que é também uma forma de resistência.