Samba na Banca do André, na CinelândiaReprodução Banca do André

Já vi verdadeiros milagres em rodas de samba. Amores começarem, tristezas evaporarem e até quem não ri com frequência, rir. Tenho um amigo que defende com unhas e dentes que é o seu espaço de contato com o divino. Motivos não faltam.
Independente se o samba nasceu no Rio ou na Bahia, como algumas vertentes históricas defendem, o ritmo construído pelas pessoas escravizadas ganhou as ruas, bares e calçadas da cidade que vergonhosamente ostenta o maior porto de entrada de negros forçados vindos da África. É na roda de samba que também essa trajetória surge.
Certa vez, entrevistando estrangeiros, perguntei sobre o que gostariam de conhecer no Rio. Era um casal de australianos. A resposta me surpreendeu: “queremos ir em um samba local”. Jovem, não tentei entender o que era o samba não local, fato que hoje, com certeza, aprofundaria. Na época, estimei que seriam os sambas montados exatamente para gringos, com coreografias ensaiadas. Tô com eles e não abro. 
Beco do Rato, Lapa, Rio de Janeiro. Sábado, dia 7 de outubro de 2023. João Martins estava no palco. Representante de uma novíssima e talentosa geração, João encerrou o show com uma pérola chamada “Povo de Santo”. Ele e Luciano Bom Cabelo escreveram “A intolerância que chutou a santa / E queimou terreiros/ Santa ignorância que remete aos tempos lá do cativeiro”, e ainda concluem “Mas por favor / Respeita meu alguidar / Respeita o povo de santo / Que eu respeito o seu altar”. O casal de Curitiba que estava comigo e com Fernanda ficou encantado com o que vivenciava. Não é pra menos. Entendo. O turismo entende. 
Cartola, que faria 115 anos nesse 11 de outubro, é sempre lembrado nas mais diversas rodas. Lá pelas tantas, até Vinicius de Moraes, que também faria aniversário em outubro, é trazido para baile. Isso gera memória. Isso gera mais conhecimento sobre nossa gente.
Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Fundo de Quintal e Jorge Aragão são alguns que surgiram nas rodas de samba e levaram fisicamente ou através do legado o Rio para o mundo. Se distanciar das rodas é esquecer o passado, o presente e o futuro.
Com tudo isso, é preciso que haja mais investimentos nas rodas de samba, como fomentadoras da nossa construção cultural. A coluna ficou muito feliz em ver sair do papel o inédito edital Rodas de Samba, criado pelo gestor público e produtor Carlos Janan, atualmente na vice-presidência da FUNARJ. Que seja o primeiro de muitos editais, no Estado e nas noventa e duas Prefeituras.
É no gingado que o Rio também sobrevive.

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Edital Rodas de Samba

Foram inúmeras inscrições, o que demonstra a força do segmento.
As inscrições fecharam e o resultado parcial é esse aqui.
A FUNARJ é presidida pelo gestor público Jackson Emerick, que recentemente foi secretário de Cultura em Barra Mansa e foi presidente da TV Alerj.
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Beco do Rato, Vaca Atolada e Banca do André
Tem samba de segunda à segunda no Beco do Rato. 
Pra quem quer outro espaço de samba que a coluna frequenta, a dica é  Vaca Atolada, também na Lapa, e Banca do André, na Cinelândia. Não preciso nem citar Cacique de Ramo, em Ramos, e Renascença, no Andaraí, né?
Quem comanda o Beco é o intrépido Lúcio Pacheco. Quem comanda o Vaca é Claudinho Cruz, um dos criadores da torcida Raça Fla e que está sempre concorrendo ao samba-enredo da Portela. Quem comanda a Banca do André é o... André, claro. 
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Trocando de papo
O livro “O Príncipe Perfeito e a Saúde do Reino” ( editora Autografia), da historiadora Priscila Aquino Silva, fala sobre o rei de Portugal Dom João II e investiga as condições financeiras deixadas por ele para que Dom Manuel investisse nas grandes navegações.
A consequência disso é a tomada do Brasil e, em seguida, o tráfico de escravizados.
Vale a leitura para entender a época.