KakayDivulgação
Talvez, uma das imagens que mais representou a paz mundial seja aquela de um homem nunca identificado, em 1989, parando os tanques quando do massacre em plena Praça da Paz Celestial em Pequim. A força daquela cena fala mais do que mil discursos na ONU. Assim como a tristeza da menina correndo, toda queimada pelas bombas americanas em 1972, no Vietnã, que ficou conhecida como “Garota Napalm”, fez-nos reforçar e consolidar a aversão pelos horrores da guerra. Uma imagem que é um soco no estômago de todos.
Por outro lado, a foto do beijo de um soldado em uma enfermeira, em plena Times Square, no dia do fim da Segunda Guerra, abraça-nos e nos acolhe. Recentemente, as fotografias de mulheres trans no presídio de Pinheiros - feitas com muita sensibilidade por um juiz fotógrafo que resultou no belo livro Translúcida - denunciam o preconceito e o inferno da vida das presas. Mas as fotos libertam. No Brasil recente, a cena do Lula nos braços do povo sendo levado nos ombros por uma multidão, quando saiu da cadeia em Curitiba, é um hino da resistência e da liberdade, tal qual a já histórica e emocionante foto da posse do povo, que abriu este ano de 2023.
Em compensação, vai se desenhando uma personificação do ridículo e do vulgar quando falamos de Bolsonaro e seu bando. A declaração do filho mais novo, no sentido de que, durante a pandemia, foi o período em que “ele mais pegou gente”, de modo a acompanhar os passos do pai, que admitiu usar a verba do auxílio moradia da Câmara para “comer gente”, ajuda a dar o contorno do que ficará como representação daquele tempo. Enquanto milhares de pessoas morriam de Covid, boa parte pela ação criminosa do governo, o filho seguia o instinto do pai.
A imagem do período bolsonarista é a mais pura definição do horror, do machismo e da vulgarização da vida. Vai ser difícil ter apenas uma foto como símbolo desse momento. Pode ser a de milhares de covas abertas, ou a dele desdenhando da dor dos que perderam entes queridos e bradando que não era coveiro ou imitando grotescamente uma morte por asfixia. São muitas as hipóteses de atrocidades. Mas acredito que o retrato que ficará ainda não foi feito. Será o desse genocida entrando na prisão após a condenação em um processo penal democrático e com todos os direitos assegurados. Essa cena deverá ser o símbolo da época bolsonarista.
“Hoje é, simplesmente, impossível dizer, ‘eu não sabia’: fotografias nos tiraram o álibi da ignorância.”
Susie Linfield, teórica social e cultural na Universidade de Nova York
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