Rio - O narcotráfico movimenta cerca de R$ 17 bilhões por ano, com captação extremamente lucrativa, e a dinâmica de alimentação do crime penetra em praticamente todas as camadas da sociedade. A venda local de drogas e as rotas internacionais são consideradas as maiores fontes de recursos do crime organizado. Os dados surpreendentes foram apresentados pelo general da Reserva Alberto Mendes Cardoso, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (Governo FHC) , fundador da Agência Brasileira de Inteligência e da Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas.
Um dos maiores especialistas hoje no assunto, o general Cardoso ainda cita que os crimes contra empresas e a população também são alternativas de renda do esquema grandioso e transnacional, gerando o sentimento de insegurança constante vivido pela população. Os dados foram apresentados no 14º ENECOB – Encontro Nacional de Editores, Colunistas, Repórteres e Blogueiros, realizado nas últimas terça e quarta-feira no Brasília Palace Hotel.
De acordo com o militar, cerca de 80% a 95% dos crimes violentos registrados em 2017 no Rio de Janeiro tiveram ligação direta com o narcotráfico. O Rio é a vitrine internacional do Brasil e foco de levantamento de dados sobre criminalidade de órgãos oficiais e entidades civis.
O lucro da atividade depende da sua situação de ilegalidade. O General reforçou a importância sobre a prevenção do uso de drogas e um olhar mais atento do Estado a políticas eficientes de educação. “Eu sou a favor da liberação do uso de drogas e da legalização do comércio, desde que as instituições cumpram o dever ético de dar condições para a juventude brasileira se capacitar para discernir seus malefícios” disse.
Para ele, a chave está em municipalizar as ações preventivas: “Nos falta um pouco de mentalidade de Estado brasileiro, raciocinamos muito com aqueles segmentos de governos e por força disso há uma dificuldade muito grande dos governos que se sucedem manterem uma política que dê valor a política de Estado. Assim acontece com a política da prevenção do uso de drogas, mesmo porque ela faz parte de uma política de educação” acrescentou.
A Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad), que foi criada pela medida provisória nº 1669 de 1998, foi transferida para o Ministério da Justiça em 2011 e acabou não dando continuidade às políticas de educação e capacitação dos jovens.
“A Senad foi criada e mantida na Presidência da República por uma razão forte, que era ela ter um status supra-ministerial. Estou um pouco preocupado com o que está acontecendo, já que ela pode ser mantida no Ministério da Justiça. Quando um órgão de prevenção basicamente educativo se junta a um órgão de repressão, há uma tendência muito natural para o órgão de repressão ter supremacia.” , ressalta o General Cardoso.