Regulamentar a Inteligência Artificial com equilíbrio e eficácia é o principal desafio do Projeto de Lei 2338/23Rawpick-Freepick
Atualmente, o país não dispõe de um marco regulatório específico para a IA. O Projeto de Lei 2338/23, já aprovado no Senado e atualmente em debate na Câmara dos Deputados, busca preencher essa lacuna ao estabelecer diretrizes para o seu desenvolvimento. Entre os principais pontos do PL, destacam-se a transparência dos algoritmos, a responsabilização por danos e a mitigação de riscos, além da classificação de sistemas de IA de acordo com seu impacto na sociedade.
A proposta em discussão estabelece que sistemas considerados de risco excessivo sejam proibidos. Isso inclui, por exemplo, armas autônomas capazes de selecionar e atacar alvos sem intervenção humana. Além disso, ficam vetados sistemas que criem ou disseminem material relacionado a abuso ou exploração sexual de crianças e adolescentes. Da mesma forma, o uso de IA para avaliar traços de personalidade e comportamento com o objetivo de prever crimes será proibido.
O uso de câmeras para identificar indivíduos em espaços públicos será permitido apenas em situações específicas, como a busca por vítimas de crimes, localização de pessoas desaparecidas ou recaptura de fugitivos. Ainda assim, a utilização dessas câmeras só poderá ocorrer em casos de crimes com penas superiores a dois anos, mediante autorização judicial e quando não houver outro meio de obtenção de prova.
Outro ponto abordado pelo projeto diz respeito aos direitos autorais no desenvolvimento de sistemas de IA. O texto prevê que conteúdos protegidos só poderão ser utilizados livremente por instituições de pesquisa, jornalismo, museus, arquivos, bibliotecas e organizações educacionais. No entanto, essa utilização deve ocorrer de forma legítima e sem fins comerciais.
Nos demais casos, os titulares de direitos autorais terão o poder de proibir o uso de suas obras. Se conteúdos protegidos forem empregados no treinamento de sistemas de IA com fins comerciais, os detentores dos direitos terão direito à remuneração.
O grande desafio é encontrar um ponto de equilíbrio entre a promoção da inovação e a necessidade de segurança jurídica. Uma regulação excessivamente rígida pode desestimular investimentos e afastar empresas do Brasil. Em contrapartida, a ausência de regras claras pode abrir brechas para abusos, como discriminação algorítmica e invasão de privacidade.
Embora a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) já seja um avanço na proteção da privacidade, a regulamentação da IA precisa ir além. O PL 2338/23 propõe a implementação de mecanismos de governança que garantam maior controle sobre decisões automatizadas, principalmente em setores estratégicos como segurança pública e saúde.
Além dos aspectos técnicos e jurídicos, a regulamentação deve levar em conta o impacto social da IA. O PL 2338/23 propõe princípios voltados à inclusão digital e ao uso da tecnologia para reduzir desigualdades, garantindo que seu potencial seja utilizado para o benefício coletivo.
No cenário global, a regulação da IA tem sido discutida intensamente. O Brasil precisa acompanhar esse movimento e se alinhar às melhores práticas internacionais, como as diretrizes do AI Act da União Europeia, para garantir sua competitividade no mercado global e evitar barreiras comerciais.
A criação de um marco regulatório para a IA no Brasil é um desafio complexo que exige um esforço conjunto entre governo, setor privado, academia e sociedade civil. O Projeto de Lei 2338/23, sem dúvida, é um passo importante nessa jornada. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido para garantir que a regulamentação seja eficaz, ética e promova o desenvolvimento sustentável da IA no país.
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