Carências na infraestrutura dos portos brasileiros exige alternativas para ampliar as exportações do paísDiego Baravelli/Minfra

Uma reportagem publicada neste sábado (19) por um dos principais jornais do país chama a atenção para um problema crucial da economia brasileira: a deficiência da infraestrutura portuária. Um dos principais gargalos é a baixa profundidade dos canais de acesso aos portos mais movimentados. Em períodos de maré baixa, navios de maior calado não conseguem atracar diretamente e precisam aguardar o momento ideal para evitar o risco de encalhe.
Essa espera custa caro. Um exemplo é a longa fila de embarque do milho e da soja produzidos no Centro-Oeste. No Porto de Santos, o maior do Brasil, as cargas chegam a aguardar até duas semanas para serem embarcadas. Esse “congestionamento”, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), gera prejuízos de até US$ 1,2 bilhão por ano.
Nesse cenário, o Porto do Açu, no Norte Fluminense, desponta como uma alternativa promissora. Com localização estratégica, capacidade para receber grandes navios e um canal de acesso com 25 metros de profundidade, o Açu reúne condições ideais para se tornar um novo hub logístico do país.
Para que isso aconteça, no entanto, é essencial garantir sua conexão com os principais polos produtores e centros consumidores do Brasil. Hoje, essa ligação ainda é precária. O acesso rodoviário é limitado, sendo feito principalmente pela BR-356 – uma pista simples que recebe, diariamente, cerca de 700 caminhões de carga, comprometendo a fluidez e elevando os custos logísticos.
Entre as obras urgentes está a ferrovia EF-118, que integrará o Porto do Açu à malha ferroviária nacional, formando o chamado Anel Ferroviário do Sudeste. A linha, com cerca de 575 km, ligará Nova Iguaçu (RJ) a Santa Leopoldina (ES), passando por terminais portuários estratégicos, como o Porto Central, Porto de Ubu e o próprio Porto do Açu. Essa conexão ferroviária será decisiva para o escoamento eficiente de commodities agrícolas, minérios e produtos industrializados, reduzindo gargalos e fortalecendo a competitividade do país no mercado global.
O projeto já está em fase de estruturação. O trecho inicial, entre Cariacica (ES) e Anchieta (ES), será construído pela Vale como contrapartida à renovação da concessão da Estrada de Ferro Vitória-Minas, com um investimento estimado em R$ 2,5 bilhões. O leilão da concessão do trecho da EF-118 entre Anchieta e o Porto do Açu está previsto para 2025. Para além desses dois trechos, é fundamental planejar urgentemente a construção do trecho restante da ferrovia, entre o Porto do Açu e Nova Iguaçu.
No modal rodoviário, uma obra essencial é a rodovia RJ-244, planejada para ligar a BR-101, na altura de Ponta da Lama, em Campos dos Goytacazes, ao Porto do Açu. Com 45 km de extensão, a nova via poderia atender até 13.600 veículos por dia, desafogando o tráfego urbano em Campos e reduzindo o tempo de deslocamento de cargas.
Apesar de já estar incluída no pacote de concessões do governo estadual, com previsão de investimento de R$ 520 milhões, o projeto ainda não tem data de início. Enquanto isso, o tráfego de caminhões segue sendo desviado por vias urbanas, como a Avenida Arthur Bernardes, em Campos, causando congestionamentos, desgaste da malha urbana e riscos constantes de acidentes.
A superação dos gargalos logísticos e a modernização da infraestrutura portuária são passos decisivos para reposicionar o Brasil no cenário global. O Porto do Açu, com sua estrutura moderna e localização privilegiada, pode ser uma peça-chave nessa transformação. Sem conexão, no entanto, seu potencial permanece limitado. Investir nessas obras é mais do que resolver um problema de transporte – é destravar o crescimento, aumentar a competitividade das exportações e abrir novos caminhos para o desenvolvimento econômico sustentável do país.