O produtor rural José Geraldo Neto planta 225 hectares de soja na região de Santa Cruz, em CamposAndressa Alcoforado/PMCG
Terra da cana, Campos se torna maior produtora de soja do estado do Rio
A leguminosa cultivada no estado ainda representa uma parcela ínfima das exportações brasileiras, mas há vantagens em investir na expansão.
Maior produtora brasileira de cana de açúcar até a década de 1970, Campos dos Goytacazes vem trabalhando em soluções para diversificar sua economia e reduzir a dependência da indústria petrolífera. A mais nova aposta do município é o cultivo de soja. Isso mesmo: a soja, que enriquece o Cerrado brasileiro e recheia nossa carteira de exportações, agora brota em terras campistas. Com 850 hectares cultivados e uma safra de aproximadamente 3 mil toneladas, o município se tornou o maior produtor da leguminosa no estado do Rio de Janeiro.
Um dos pioneiros foi o produtor rural José Geraldo Neto, da localidade de Santa Cruz. Há cinco anos, ele diversificou a produção em suas terras, onde predominavam a cana e o gado de corte. Apesar de depender do clima, a soja tem uma rentabilidade quase duas vezes maior que o gado, o que torna a atividade atrativa. Tem também mercado garantido, tanto interno quando externo.
Apoio técnico é fundamental. Nos últimos anos, a Prefeitura de Campos vem apoiando o “Dia de Campo: Pesquisa e Desenvolvimento da Soja no Norte Fluminense”, promovido pela Pesagro-Rio e Embrapa, além de dar orientação aos produtores. Outra ação promovida pelo governo municipal é a recuperação de estradas vicinais.
Quem acompanha o noticiário agrícola sabe a importância que a soja ocupa entre as commodities brasileiras. Na safra 2025, o país deve colher 167,3 milhões de toneladas da leguminosa – 10% a mais que em 2024. No cenário nacional, o Rio de Janeiro ocupa uma produção modesta, frente aos estados líderes (Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia), que surfam na casa das dezenas de milhões de toneladas produzidas. Ainda assim, o sucesso das fazendas de campos é motivo para se inspirar. Quantas outras terras poderão ser usadas para esta lavoura? Quantas oportunidades vêm pela frente?
Além da produção de óleo e ração animal, a soja pode ser usada para a produção de biocombustível, especificamente para a fabricação de biodiesel. O óleo extraído do grão pode substituir ou ser misturado ao diesel de origem fóssil. O biodiesel de soja é amplamente utilizado no Brasil e em outros países devido à sua eficiência energética e menor impacto ambiental em comparação aos combustíveis tradicionais. Isso poderia ser mais uma oportunidade para Campos e os municípios fluminenses expandirem sua economia, agregando valor à produção agrícola e incentivando a transição para fontes de energia mais sustentáveis.
A diversificação econômica se mostra essencial para os municípios do Rio, que ainda têm sua arrecadação fortemente atrelada aos royalties do ouro negro. Com a transição energética e a crescente busca por fontes mais sustentáveis de energia, torna-se crucial que as cidades repensem suas estratégias de crescimento e desenvolvimento. Ainda mais no momento em que as duas maiores economias do mundo ameaçam travar uma guerra comercial sem precedentes, que tendem a abrir as portas do mercado asiático ás commodities brasileiras.
A expectativa é que, nos próximos anos, mais áreas agrícolas sejam destinadas à produção da leguminosa e outras culturas, fortalecendo o agronegócio. Se assim for, outras culturas se tornarão viáveis para abastecer o estado do Rio (que importa grande parte do consome), o Brasil e, quem sabe, o mundo.
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