O petróleo continua forte na economia fluminense, mas sua soberania mundial diminuiuTânia Rego/Agência Brasil

O estado do Rio de Janeiro construiu sua economia sobre o petróleo. Seus campos offshore transformaram a costa fluminense em uma potência energética e financiaram grande parte de seu desenvolvimento. Ainda é assim. Recentemente, a Petrobras anunciou um investimento de 23 bilhões de dólares na Bacia de Campos até 2029. Uma boa notícia, sem dúvida. Mas o vento está mudando – e rápido. Se o Rio quiser manter sua posição de destaque no setor energético, precisa olhar além do ouro negro e abrir espaço para as fontes limpas que estão redefinindo o futuro.
Por décadas, o petróleo foi soberano. Moveu o mundo, alimentou indústrias, sustentou economias. Mas, como toda monarquia, seu reinado não é eterno. Na última segunda-feira (24), a Agência Internacional de Energia (IEA) trouxe mais um capítulo dessa transição inevitável: a demanda global por energia segue crescendo, mas a cor desse crescimento já não é mais tão escura.
Em 2024, o consumo global de energia subiu 2,2% – um ritmo acelerado na comparação com a última década. O aumento veio, sobretudo, dos países emergentes, que seguem em expansão industrial, enquanto as economias desenvolvidas, após anos de retração, voltaram a aumentar o consumo. Mas a grande revolução está no setor elétrico, que cresceu 4,3% no último ano, impulsionado pelo calor recorde, pela eletrificação do transporte e pela fome insaciável por data centers e inteligência artificial.
E aqui está o dado que deve acender o alerta no Rio de Janeiro: pela primeira vez, a energia renovável liderou essa expansão. Foram 700 gigawatts de nova capacidade instalada, um recorde absoluto pelo 22º ano consecutivo. A energia nuclear, embora em menor escala, também avançou, alcançando seu quinto maior nível das últimas três décadas.
Enquanto isso, o outrora imponente petróleo dá sinais de cansaço. Seu crescimento foi tímido – apenas 0,8% – e sua participação na matriz energética global caiu abaixo dos 30% – um declínio drástico para um combustível que já representou 46% do consumo mundial há 50 anos. A ascensão dos veículos elétricos, com um salto de 25% nas vendas globais, só reforça que a virada de chave já está acontecendo.
O petróleo ainda tem seu papel, mas cada vez menos como protagonista. Se quiser continuar no centro das decisões energéticas, o Rio de Janeiro precisa diversificar urgentemente.
A boa notícia? O estado pode manter sua vocação como terra da energia, mas agora debruçando-se sobre novas matrizes: a energia solar, que já ilumina milhares de lares; a energia eólica offshore, que já começa a ganhar espaço na costa fluminense; o biocombustível, que pode impulsionar um transporte mais limpo; e o hidrogênio verde, que desponta como a grande aposta para uma indústria descarbonizada.
O Rio tem tudo para ser um polo dessa nova revolução energética – basta saber se lançará suas velas ao vento ou ficará à deriva no mar do passado.