Cortada pelo Rio Paraíba do Sul, Campos dos Goytacazes reflete os desafios e oportunidades do BrasilCésar Ferreira
Campos dos Goytacazes, um espelho que reflete desafios e possibilidades
Completando 190 anos de elevação à categoria de cidade nesta sexta-feira (28), essa terra querida, "Espelho do Brasil", sabe como poucas se adaptar e se reinventar.
Hoje peço licença para homenagear a terra que me acolheu há mais de 40 anos: Campos dos Goytacazes. Neste 28 de março, a maior cidade do interior do estado do Rio de Janeiro completa 190 anos de elevação à categoria de cidade. É a terra do chuvisco, cortada pelo Rio Paraíba, cujas águas – dizem – quem bebe não vai mais embora.
Por sua relevância histórica e econômica, Campos foi chamada pelo presidente Getúlio Vargas, na década de 1930, de “Espelho do Brasil”.
Ser espelho de um país significa refletir os desafios enfrentados pelas outras cidades. Não apenas os problemas, que são muitos, mas também as possibilidades de transformação. E Campos, ao longo de sua história, tem demonstrado uma profunda capacidade de se adaptar e se reinventar. Se há limão, faz uma limonada. Ou para ser bairrista: se há goiaba, faz goiabada. Com doçura, a cidade se molda aos novos tempos.
No Ciclo Áureo do Açúcar, sua economia pujante produziu belezas incontáveis, tão bem representadas na forma de igrejas centenárias, casarões e teatros. Maior produtora de cana do Brasil, Campos rivalizava economicamente com grandes capitais. Atraiu obras monumentais, como a construção de um canal de 104 quilômetros interligando a cidade a Macaé – o segundo maior canal artificial do mundo. Tamanha era seu prestígio que, em 1883, foi a primeira cidade da América Latina a receber luz elétrica.
A pujança do setor sucroalcooleiro chegou ao fim na década de 1970. Nessa época, o início da exploração de petróleo na Bacia de Campos trouxe uma nova fonte de renda para o município. Vieram também as cerâmicas e as universidades, que fizeram de Campos um dos principais polos de ensino superior do Brasil.
Por sua localização estratégica (no entroncamento de duas importantes rodovias federais) e pela proximidade com o Porto do Açu, a cidade hoje atrai grandes redes atacadistas e vive uma promissora expansão imobiliária, agora com o aumento dos bairros planejados. Nessa grande região metropolitana do petróleo, é o núcleo que concentra a maior parte das empresas do setor de comércio e serviços.
O desafio que permanece é o de transformar o reflexo em ação. Se Campos é, de fato, um espelho, sua trajetória pode servir de inspiração para soluções inovadoras e sustentáveis que beneficiem não só a cidade, mas todo o país. Como um microcosmo da nação, sua evolução pode antecipar tendências, indicar caminhos e mostrar que, mais do que refletir, é possível iluminar um futuro melhor.
Trabalhamos em diversos projetos com olhar no futuro. No governo do prefeito Wladimir Garotinho, ampliamos a geração de empregos e a abertura de empresas, mostrando aos pequenos, médios e grandes investidores que, ano após ano, Campos dá passos importantes no campo da infraestrutura e da desburocratização. Não há dúvida: a cidade se tornou um ambiente mais seguro, favorável e atrativo para se investir.
Mas adaptar-se e reinventar-se vai muito além. O maior município do estado do Rio de Janeiro em extensão territorial trabalha para desenvolver o agronegócio e criar oportunidades de escoamento da produção da agricultura familiar. Mira a geração de energia limpa, a partir do sol, dos ventos e do hidrogênio verde.
Projetos estruturantes começam a se tornar realidade. Vem aí a Central de Abastecimento de Campos (Ceascam), o Terminal Pesqueiro, o Complexo Logístico e Industrial Farol/Barra do Furado. Vem também o Hub de Inovação e Desenvolvimento Econômico, aproveitando o enorme potencial das nossas universidades e centros de pesquisa para produzir conhecimento e transformá-lo em negócios.
Voamos num céu de brigadeiro? Lógico que não. Como qualquer cidade de grande porte, Campos tem suas dificuldades. O crescimento rápido exige investimentos permanentes, com a construção de escolas, creches e unidades de saúde, obras de saneamento e proteção social. O déficit habitacional existe – embora já tenha sido muito maior. Milhares de famílias dependem de benefícios sociais, como o Bolsa Família e o programa de transferência de renda Cartão Goitacá, criado em 2022 pela Prefeitura de Campos.
Existe o desafio de melhorar continuamente a educação, em nome de uma geração mais preparada para o mundo digital. O aquecimento global afeta cada vez os produtores rurais, exigindo novas tecnologias e incentivos. São dilemas comuns à maioria dos municípios brasileiros, o que reforça o simbolismo da expressão cunhada por Vargas.
Peço sua permissão para encerrar por aqui, ou este artigo se transformará num livro, tamanha a quantidade de temas que podem ser debatidos. É hora de respirar o ar puro da planície cortada pelo velho Paraíba, que está em constante movimento. E agradecer pela oportunidade de estar aqui, contribuindo de alguma forma pelo seu desenvolvimento.
Neste 28 de março, que o espelho do Brasil continue refletindo os desafios e conquistas de um povo que, com trabalho e resiliência, constrói um futuro promissor.
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