Fila de idosos num posto de saúde: cidadãos com mais de 60 anos precisam ter a prioridade garantida no atendimentoRovena Rosa/Agência Brasil

No caixa preferencial de um supermercado, uma senhora de cabelos brancos aguarda com paciência. O carrinho encostado discretamente ao balcão revela certo alívio por não disputar espaço na fila comum. A tranquilidade, no entanto, é quebrada quando um cliente, sem se enquadrar nas condições previstas no aviso — gestante, idoso, pessoa com deficiência — ocupa o caixa exclusivo apenas para escapar da fila maior. Enquanto isso, três caixas comuns permanecem livres, sem que ninguém chame a idosa para ser atendida.
Realidade? Sim. Infelizmente cada vez mais comum. É assim no supermercado, no banco, nos hospitais e até nos estacionamentos dos supermercados e shopping centers. Desrespeitar o espaço preferencial destinado aos cidadãos com mais de 60 anos contraria o que determina o Estatuto do Idoso, que garante atendimento preferencial imediato e individualizado para esta camada cada vez maior da sociedade. “Imediato” não significa “quando der” ou “somente no caixa reservado”, mas sim prioridade real na ordem geral de atendimento.
O Brasil envelhece rapidamente. Em pouco tempo, o grupo 60+ deixará de ser exceção e passará a representar parte significativa das filas. A criação de caixas exclusivos, embora útil, não resolve por completo a questão, pois o atendimento prioritário deve se adaptar às circunstâncias para evitar esperas desnecessárias. Mais do que cumprimento de lei, atender antes é um gesto de respeito. Envelhecer impõe ritmos diferentes, e longas esperas podem se tornar um desafio físico. Garantir prioridade é reconhecer que dignidade também se expressa no cuidado com o tempo alheio.
É preciso lembrar que o envelhecimento populacional não é um fenômeno distante, mas uma realidade em curso. As estruturas de atendimento — públicas e privadas — precisam estar alertas para absorver essa nova demanda, não apenas criando espaços exclusivos, mas treinando equipes, adaptando procedimentos e reforçando a cultura de respeito. Afinal, de nada adianta a lei se a prática a reduz a um formalismo vazio.
Também é fundamental ampliar o debate para além das filas e vagas de estacionamento. O atendimento prioritário é apenas um dos símbolos de como a sociedade encara a velhice. Mobilidade urbana, acesso à saúde, inclusão digital e oportunidades de participação social são outros pontos em que a prioridade precisa sair do papel e se transformar em vivência cotidiana. Preparar-se para o futuro é, antes de tudo, reconhecer o valor e as necessidades de quem já chegou lá.