Avenida Princesa Isabel: apesar de serem maioria, as mulheres ainda dão nome a poucos logradouros públicosArquivo/Prefeitura do Rio
GPS da desigualdade: cadê as ruas com nomes de mulheres?
Apesar de serem maioria na população, mulheres seguem sendo minoria nos nomes de ruas, nas placas do poder e nos mapas da representatividade.
Chegando à cidade do Rio de Janeiro, atravesso a Ponte Presidente Costa e Silva. Na descida, atravesso a Avenida Francisco Bicalho, de onde acesso a Avenida Presidente Vargas. Uma curva à direita, entro na Rua Benedito Hipólito e, em seguida, na Rua Marquês de Pombal. Dois quarteirões depois, acesso a Rua Frei Caneca.
Não escrevo este artigo para substituir o Google Maps, mas para fazer um questionamento: onde estão as ruas e avenidas em homenagem às mulheres? Por que num estado onde, segundo dados do IBGE, elas são 52,8% da população, há tão poucos logradouros públicos com nomes femininos?
Quem se der ao trabalho de vasculhar os mapas vai perceber que não estamos nos restringindo à Cidade Maravilhosa. Embora não haja estatísticas disponíveis, em praticamente todos os 92 municípios do estado do Rio de Janeiro a supremacia masculina ainda prevalece nos trajetos diários que você faz de casa ao trabalho, ou na ida ao clube, ao shopping ou à escola dos filhos.
Tocamos numa ferida aberta: o machismo estrutural que ainda está profundamente enraizado nas estruturas sociais, políticas e culturais da nossa sociedade. Ele se manifesta como um sistema que naturaliza e perpetua a desigualdade entre homens e mulheres em diversos níveis. Não é segredo para ninguém: a história foi majoritariamente contada pelo foco masculino, pelos viscondes, generais e barões, num país em que as mulheres só tiveram direito a voto em 1932.
Os números que comprovam a desigualdade estão aí, em diversos segmentos. Dados atualizados pelo 3º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios indicam que, em 2024, as mulheres ganhavam 20,9% a menos que os homens. Embora já sejam maioria entre os diplomados no ensino superior, elas ocupam apenas 39,3% dos cargos de gerência, segundo o IBGE.
Na política não é muito diferente. Segundo estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Rio de Janeiro foi o estado com a menor proporção de mulheres eleitas como vereadoras no Brasil em 2024. Na atual legislatura, elas ocupam cerca de 9% das 1.208 cadeiras, contra uma média nacional de 18%. Nos 92 municípios fluminenses, 25 sequer elegeram uma mulher para a Câmara Municipal. Para prefeitas, foram eleitas 13 mulheres (15,4% do total).
Há que se louvar algumas iniciativas. Na cidade do Rio, a Lei Municipal no 2.906/1999, de autoria do vereador Rogério Cardoso Salgadinho, prevê alternância de nomes de personalidades masculinas e femininas na denominação oficial de logradouros públicos. Gradativamente, à medida em que a área urbana se expande, mais nomes femininos serão incorporados aos mapas oficiais, aumentando um percentual que hoje gira em torno de 15%.
Esperamos que este exemplo possa inspirar as lideranças políticas — não apenas no batismo de praças, ruas, avenidas, centros culturais ou espaços públicos, mas também na promoção de políticas que efetivamente promovam a equidade de gênero na política, no mercado de trabalho, na cultura e em todos os segmentos que participam da construção da sociedade moderna. Que Maria Quitéria, Princesa Isabel, Dandara dos Palmares, Benta Pereira, Marielle Franco, Zuzu Angel e Aída Curi ganhem novas companhias nos nossos trajetos diários, tornando as nossas cidades mais femininas e mais representativas.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.