Gastão Reis, colunista de O DIA divulgação

É público e notório que o Brasil vem colecionando décadas perdidas, com maior ou menor intensidade, desde a de 1980. Aquele tipo de crescimento pífio, que nos impede de acompanhar o avanço da renda real per capita do resto do mundo. Estamos ficando para trás, como nos garante Francis Fukuyama, no último livro editado e organizado por ele. Afinal, o que está acontecendo?
Numa única palavra: subinvestimento. O percentual ideal de pelo menos 25% do PIB tem ficado, ao longo do tempo, entre 16 e 18%; logo, bem abaixo do necessário.
No Brasil, é comum afirmar que os empresários sempre mamaram nas tetas do Estado. Até certa época, havia alguma verdade nessa afirmação. Mas, desde 1980, a coisa mudou. No início do novo milênio, por uma década, o aumento real da arrecadação federal foi de 10% ao ano! Resta, então, a pergunta: quem mama nas tetas de quem?
O que acabou acontecendo é que o Estado brasileiro é que está, cada vez mais, mamando nas tetas das empresas, a ponto de reduzir-lhes a capacidade de investir em função da elevação da carga tributária. E sem aumentar sua própria taxa de investimento, que já foi de 10%, e hoje se situa bem abaixo de 2% ao ano. Ou seja, não investe e não deixa investir. (E ainda toma 50 centavos em cada real gasto por quem ganha até dois salários.)
Temos, sem dúvida, um lado esquizofrênico na condução de nossa política econômica. Ao compararmos o crescimento do agronegócio com o da indústria e a dos serviços, constatamos que a carga tributária do agronegócio vem girando em torno de 6% ao ano. Isto lhe permitiu manter taxas de investimento bem acima dos outros setores. E ter um ótimo desempenho com as exportações superando em muito as importações, gerando divisas para o país. No ano passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reduziu em cerca de um terço a carga tributária da indústria de transformação, que era de 47%! Ficamos, por mais de três décadas, condenados à marcha lenta.
Não seguimos a máxima de Deng Xiaoping contra seus camaradas renitentes do Partido Comunista Chinês: “O importante não é que o gato seja branco ou preto, mas que coma ratos”. Ele percebeu, claramente, a ineficiência do Estado na esfera produtiva. E tomou providências com sucesso. Não se trata de defender aqui os excessos pró-empresas do governo chinês, a ponto de permitir pesadas jornadas dos trabalhadores. Mas de combater os absurdos cometidos pela bur(r)ocracia brasileira ao criar-lhes todo tipo de entraves.
O que preocupa ao olharmos para o futuro são as declarações de Lula no sentido de desmontar o que foi feito com êxito. Mario Henrique Simonsen, que foi ministro da Fazenda, dizia que, no Brasil, temos o hábito de insistir em reeditar políticas que já deram errado no passado. Um bom exemplo foi o combate à inflação por meio de congelamentos de preços. Não funcionou desde Hamurabi e Diocleciano, imperador romano. Deram com os burros n’água. Ou vamos mergulhar novamente nessas águas turvas sem dar prioridade à reforma tributária, essencial que é para dar fôlego novo ao setor privado?

(*) Digite no Google para ver “Dois Minutos com Gastão Reis: História do Brasil mal contada”. Ou pelo link https://www.youtube.com/watch?v=Pb86v1krHfE

Gastão Reis é economista e escritor
Contato: gastaoreis2@gmail.com