Gastão Reis: Lula e PT não aprenderam nada com Acton e Bakunin
A falta de imaginação de Lula e do PT fica patente, nessa linha, ao propor, em pleno século XXI, reestatização e controle social da mídia, a despeito do ocorrido na União Soviética e na China
É público e notório que o arcabouço político do Patropi deixa muito a desejar. Esse estado geral desconcertante deve nos induzir a ir mais fundo na questão do poder, ainda visto entre nós, aparentemente, com certa ingenuidade no que tange à sua essência. Curiosamente, Lord Acton, historiador inglês de perfil conservador, e Mikhail Bakunin, revolucionário russo anarquista, se irmanavam em sua visão realista do poder.
Acton afirmava que o poder corrompe e que o poder absoluto corrompe absolutamente. Bakunin via nas concepções de Marx a semente do socialismo autoritário (na prática, totalitário), ou seja, a famigerada ditadura do proletariado, defendida por Marx. Bakunin dizia que o poder é sempre exercido por uma minoria. E que, após a revolução, os antigos operários que agora a integram “pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões em governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana”. (Cabe aqui citar Freud após ler Marx: “Este homem desconhece o que é a natureza humana.)
Este é um bom retrato do acontecido na ex-URSS. E com Lula & PT para desilusão de quem acreditou neles. Se os dirigentes do PT tivessem formação intelectual mais sofisticada, teriam levado Bakunin e Acton muito a sério. Jamais embarcariam na canoa furada de ambicionar o topo do poder por décadas a fio. Teriam aceitado a alternância no poder como elemento fundamental da democracia com sua capacidade de restaurar o equilíbrio político, mecânica que Pedro II estimulava, desde o século XIX, via poder moderador.
Este despreparo político levou Lula, Dilma e PT a se servirem de quaisquer meios para obter recursos em sua ânsia por hegemonia política. E até mesmo afundar a Petrobras, se tivessem tido tempo. A Venezuela conseguiu essa proeza na estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA.), fazendo jus ao Muerte do que está escrito em seu frontispício: “Socialismo o Muerte”. O próprio ministro-chefe de Dilma, Jaques Wagner, admitiu que se lambuzaram ao comer mel pela primeira vez.
A falta de imaginação de Lula e do PT fica patente, nessa linha, ao propor, em pleno século XXI, reestatização e controle social da mídia, a despeito do ocorrido na União Soviética e na China. A Inglaterra sabe manter o poder sob rédeas curtas: o primeiro-ministro presta contas semanais dos atos de governo ao Parlamento e ao rei. A tradição parlamentarista do Império foi jogada fora em 1889, e nos deixou sem os instrumentos de controle e gestão do poder.
O voto de desconfiança dado à Dilma pela população nas ruas é um dispositivo sem amparo constitucional. O país, nesses tempos turbulentos com que convivemos, tenta o impossível: sobreviver sem ter como base da vida pública a confiança do povo em seus governantes. As regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e até partes do Nordeste estão protestando por não aceitarem uma manobra jurídica que viabilizou a simples candidatura do Lula. Este é o cerne da questão.
Gastão Reis Rodrigues Pereira é empresário e economista
(*) Digite no Google “Dois Minutos com Gastão Reis: Confiança a ser reconquistada” para assistir meu vídeo. Contato: gastaoreis2@gmail.com
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