Machado de Assis, por sua vez, não se tornou apenas o maior escritor brasileiro. Já faz tempo que os críticos norte-americanos e europeus o reconhecem como um dos grandes escritores da humanidade
Por volta de 2005, participei de um Encontro da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), no Copacabana Palace, cujo objetivo era estabelecer o planejamento da indústria fluminense para o período 2006-2015. A metodologia utilizada foi diferente das usuais e se revelou capaz de captar os anseios e objetivos dos industriais fluminenses. A boa notícia foi ter metas com datas definidas e responsáveis pela execução em bases regulares.
As reclamações sobre o despreparo da mão de obra me levaram a fazer um comentário sobre o desequilíbrio entre aulas de gramática em excesso face às de redação e interpretação de textos. Esta ensina os alunos a investigar o pensamento dos autores com desafios propostos pelos professores. Já as aulas de redação induzem os alunos a aprenderem a pensar por si mesmos.
Exemplifiquei com as aulas de inglês em filmes norte-americanos e ingleses. Os alunos estão sempre trabalhando um texto ou debatendo redações de sua autoria. É quase impossível detectar o ensino de gramática. Fiz a ressalva de que a Língua Portuguesa é mais exigente em termos gramaticais do que o inglês, bem mais simples. É sintomático que o melhor livro de gramática da Língua Inglesa tenha sido escrito por um holandês. Reflete até certo descaso.
Após minha intervenção, outro participante discordou de mim, ressaltando a relevância da gramática. Respondi que concordava no caso do idioma português, mas que meu foco era o excesso de gramática e a pouca atenção dada à interpretação de textos e às redações, pouco exigidas dos alunos. Pode parecer o cúmulo da coincidência, mas, após o término do seminário, meu oponente e eu estávamos em pé conversando quando chegou um amigo dele para um leilão de obras de arte ali no Copacabana Palace.
Meio que do nada, o amigo do meu opoente falou em Machado de Assis, de quem conhecia bem a obra, e comentou que o maior escritor brasileiro nunca deu muita bola para gramática. Ler, interpretar estilos de diferentes autores e escrever era o tripé em que Machado concentrava. Aprender investigando, dizia ele. Obviamente, dei um olhar significativo para o meu antagonista na linha de que eu tinha a meu favor o caso de Machado de Assis. E nem por isso ele era gramaticalmente capenga. A gramática lhe veio naturalmente através da leitura de bons autores.
No lado oposto, havia o caso do professor de português que escrevia artigos nos jornais locais da cidade imperial. Impecável em gramática, e medíocre quanto a estilo e conteúdo.
Machado de Assis, por sua vez, não se tornou apenas o maior escritor brasileiro. Já faz tempo que os críticos norte-americanos e europeus o reconhecem como um dos grandes escritores da humanidade. Soube evitar também o preciosismo vocabular de Ruy Barbosa e Euclides da Cunha, que pareciam se deliciar em nos surpreender com vocábulos cujo significado desconhecemos.
Infelizmente, a lição de Machado de Assis, que aprendeu a pensar, parece nos escapar não só na literatura, mas também em outros ramos do saber como política econômica com visão de longo prazo. Que tal seguir o exemplo dele?
Gastão Reis é economista e escritor
Nota: Digite no Google “Dois Minutos com Gastão Reis: Duas Lições de Machado de Assis”. Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=PBF-_KnhHYU
Contato: gastaoreis2@gmail.com Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira Empresário e economista: E-mails: gastaoreis@smart30.com.br// ou gastaoreis2@gmail.com Contatos: (24) 9-8872-8269 ou (24) 2222-8269
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