Tive a oportunidade de assistir um trecho de um filmete em que Stálin se dirigia a uma multidão de bestificados. O ponto alto, na verdade, baixíssimo, foi quando ele, único dono da verdade, sentenciou: "Quando a política o exigir, há que mentir, trair e até matar”. Não satisfeito com essa sutileza de rinoceronte enfurecido, ele foi adiante, e completou, de mãos dadas e mente sintonizada com o tinhoso, com a seguinte "pérola": "Eu emancipo o homem da humilhante quimera da consciência".
A etimologia da palavra consciência nos ajuda a entender o absurdo que foi dito. O vocábulo tem origem no latim, conscientia, que, ao pé da letra, significa "com conhecimento”. No dicionário, consciência é o ato psíquico mediante o qual uma pessoa enxerga a sua presença no mundo. Abdicar dessa propriedade do espírito humano é negar seus atributos essenciais. Stálin estava propondo à plateia que cada um(a) se tornasse um robô programado para fazer qualquer coisa ordenada por ele em seu sonho diabólico.
O melhor modo de entender a questão de fundo desse delírio stalinista é a tese desenvolvida por Hannah Arendt em seu brilhante livro "A Promessa da Política". Ela nos fala da tradição do homo politicus desenvolvida por Platão e Aristóteles. A praça pública grega, berço da democracia ocidental, em que as diferentes opiniões eram livremente debatidas, e onde as decisões eram tomadas pelo voto igualitário dos cidadãos livres.
Na conquista da Grécia, os romanos não praticaram uma política de terra arrasada. Foi no ano de 146 a.C., época em que os generais eram monitorados por um delegado do senado. Os romanos tinham admiração pela cultura, filosofia, literatura e arte gregas. Na verdade, os patrícios, classe mais abastada de Roma, tinham sempre em casa um professor grego escravo para seus filhos, de tal forma que soubessem ler e escrever em grego. Roma dispunha, ainda, no período republicano, de conselhos onde a participação popular foi efetiva bem como a dos patrícios em linha com a tradição grega, com algumas diferenças.
Na verdade, essa ilustre tradição da vida política ocidental perdurou por dois mil anos até que pensadores como Hegel e Marx abrissem as portas para as trágicas experiências totalitárias do comunismo e do nazismo. Stálin e Hitler puseram em prática essa aberração política que suprimiu o espaço de manifestação do outro, aquele que discorda de nós.
A luta de classes, proposta por Marx e levada às últimas consequências por Stálin, tinha como fim último a eliminação das demais classes sociais, indo em busca da quimera – essa sim! – da sociedade sem classes. Acabou resultando numa sociedade gerida por líderes desclassificados pela ausência de práticas democráticas de respeito àqueles que têm todo o direito de discordar, exercendo em sua plenitude sua consciência política e democrática sem jamais abdicar dela.
A sociedade de robôs de Stálin, felizmente, não vingou. O surpreendente é que perdurou na ex-URSS até 1953, quando Stálin morreu. Em 1956, Nikita Kruschev denunciou para o mundo seus crimes hediondos.
Nota: Digite “Dois Minutos com Gastão Reis: Stálin ainda vive no Brasil do PT”. Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=4ef1qBzjv3k
* Gastão Reis é economista e palestrante
Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira Empresário e economista . E- mails: gastaoreis@smart30.com.br// ou gastaoreis2@gmail.com Contatos: (24) 9-8872-8269 ou (24) 2222-8269
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.