Gastão Reis, colunista de O DIA divulgação

Países bem, ou razoavelmente, resolvidos em suas instituições políticas têm na confiança da população no governo a pedra angular de sua vida política. Irmã gêmea dela é a responsabilidade dos governantes em suas ações no desempenho de suas funções. E ainda respondem, sem dó nem piedade, por qualquer arranhão que derrube sua credibilidade. Ou seja, mesmo que não tenha sido responsável diretamente por
algum malfeito, o governante assume a responsabilidade e as consequências daí oriundas.
O caso Profumo na Inglaterra, em 1961, sob o gabinete Harold Wilson, é bastante ilustrativo do que seja responsabilidade. John Profumo, então ministro da Guerra, teve um breve relacionamento amoroso com a bela modelo Christine Keeler, de 19 anos de idade. Ela também tinha um caso com o adido militar russo sediado em Londres. Era tempo da guerra fria. O episódio foi visto como uma possível ameaça à
segurança do país.
Descoberto o affair, John Profumo teve que renunciar imediatamente à cadeira que ocupava no gabinete. Pouco tempo depois, o próprio primeiro-ministro, Harold Wilson, cujo governo era bem avaliado pela opinião pública, também teve de renunciar. E isto aconteceu sem que fosse provada qualquer conivência dele com as atividades noturnas de seu ministro. Na tradição inglesa, a responsabilidade acabava recaindo sobre seus ombros por ter nomeado um ministro cujo comportamento era incompatível com seu cargo. Nos tempos do Império, a mentalidade reinante ia na mesma direção de cobrar dos ministros responsabilidade pelos atos de governo nas reuniões semanais mantidas por D. Pedro II. Na época, a grande influência francesa na cultura não se estendia à política. O modelo brasileiro era bem mais parecido com as práticas inglesas de monitoramento semanal do poder. Também não se acreditava muito que a política fosse realmente a mais nobre das atividades humanas, como pregava Aristóteles.
Estávamos na boa companhia de Lord Acton, aquele que enunciou a famosa frase "O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente". Sabedores de que o poder tende a se corromper, a tradição inglesa mantém, até hoje, a fiscalização semanal do poder, como fazia D. Pedro II. O primeiro-ministro inglês, ainda hoje, é submetido a uma dupla fiscalização. Às quartas-feiras, presta contas dos atos de
governo no Parlamento. Às sextas-feiras, ele tem uma reunião particular como o rei (ou a rainha), em que é inquirido pelo Chefe de Estado sobre qualquer questão de governo. E não pode mentir.
Ao darmos um salto para o tempo presente, temos a noção do quanto perdemos em termos de responsabilidade. Mesmo concedendo a Lula o benefício da dúvida, de que ele não sabia de nada, ele foi o responsável pela nomeação de quem fraudou a Petrobras e o BNDES em bilhões de reais; saqueou os fundos de pensão dos próprios trabalhadores; e assim por diante. Foge à normalidade o fato de que Lula acabou sendo ressuscitado politicamente pelo STF, como afirmou o ministro aposentado Marco Aurélio Mello. Onde ficou a responsabilidade? Ninguém sabe, ninguém viu. Que tristeza!
Nota: Digite no Google "Dois Minutos Gastão Reis: Que um mau governo dure pouco".
Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=SC10Na2puY4