Lula da Silva vem se destacando por falas fora de foco e desinformadas. O alvo desta vez foi o ministro Haddad, a quem deu a seguinte diretriz: "O Haddad, ao invés de ler um livro, tem que perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara". A frase em si revela um ser de pouca leitura num mundo dominado pela produção de muita informação a ser peneirada para se separar os fatos de narrativas. Há que ler, e muito, para que a ação a ser tomada seja eficaz e eficiente. Ou seja, fazer o certo de modo correto.
Fico imaginando o que se passou na cabeça do ministro Haddad após ouvir a instrução de Lula. Aquilo que ele pensou e não podia dizer em público. Seu monólogo interior deve ter sido o seguinte: "Uma boa conversa requer que a pessoa se prepare e se planeje. Como fazer isso lendo menos? Uma coisa requer a outra". E arrematou, em pensamento: "Talvez por isso o presidente tenha dado tantos foras em suas viagens no exterior e aqui".
Quando Lula recomenda "perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara", parece ser exatamente isto: tempo perdido. O episódio se enquadra na esquizofrenia do presidencialismo latino-americano, em que os presidentes se elegem sem base parlamentar. Milei convive com o mesmo drama na Argentina. Um Congresso de oposição cuja má vontade em colaborar é evidente. E só o faz exigindo em troca mundos e fundos.
Primeiros-ministros europeus jamais o dizem abertamente, mas devem ter um sentimento de pena ao constatar a vocação latino-americana para a perda de tempo histórico. Lá, o chefe do poder executivo só toma posse após resolver, antes, sua base parlamentar de apoio. São regimes parlamentaristas. A diferença entre nós e nossos vizinhos é que nós adotamos o parlamentarismo até 1889. Depois nos irmanamos no erro.
"Perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara" revela não só imprecisão no uso da língua bem como um ato falho. Deveria ter dito "dedicar algumas horas". Por outro lado, o ato falho é que "perder" (tempo) é exatamente a sina com que Haddad se defronta: um Congresso virado para o próprio umbigo (gastador) sem lugar para o interesse público. Mas que também já percebeu que apoiar Lula em algumas de suas iniciativas é dar marcha à ré nos ponteiros da História.
Um bom exemplo é o caso de restabelecer a contribuição obrigatória dos trabalhadores a seus sindicatos. Aquele truque maquiavélico de Getúlio Vargas, inventor do sindicalismo sem sindicalizados. Na verdade, uma máquina de corrupção em que os gestores dos sindicatos não precisam prestar contas de seus gastos a quem paga a conta, princípio torto que Lula defende até hoje.
O quadro que se delineia é o de um governo sem rumo tanto em política externa, contrária aos nossos interesses estratégicos, bem como equivocado em suas iniciativas de política econômica, em que ele confunde, como sempre, gastos desenfreados com investimento. Algum crescimento que o País venha a ter será obra dos ciclos econômicos da própria economia, e não das propostas que Lula tenta implantar. E que nos levariam à estação Venezuela.
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