Gastão Reisdivulgação

Quem teve a oportunidade de assistir ao excelente seriado “Crown”, que nos conta a vida da rainha Elizabeth II, talvez se lembre do episódio 7, que relata o derrame sofrido por Churchill. Ele ainda era Primeiro-Ministro e mandou dizer ao palácio que iria faltar à reunião semanal com a rainha por estar gripado. Na verdade, mentiu. Um funcionário dele, que sabia do derrame, foi chamado à presença da rainha por outra razão, e acabou dando com a lín-gua nos dentes, pensando que quisesse saber do estado de saúde de Churchill.
Ela relatou o fato ao Prof. Hogg, contratado por ela para aulas de cultura geral, e lhe disse que não faria nada. Ele discordou, afirmando que ela conhe-cia a Constituição melhor que ninguém, e que tinha todo o direito de dar um puxão de orelha em Churchill. Nada mais, nada menos que aquele direito do soberano inglês de advertir quem conduz o governo de Sua Majestade quando desse um passo em falso.
Assim que ela acabou de passar um pito em Churchill, ele reagiu afirmando que tinha cumprido a promessa que havia feito ao pai dela de ajudá-la a se preparar para suas funções de Chefe de Estado. E que, agora, ela estava pronta para exercê-las em sua plenitude. Perde perdão à rainha pela quebra de confiança, dizendo-se já restabelecido. E a informa que iria se afastar em breve de seu cargo.
No mesmo dia, na audiência prévia que havia tido com Lord Salisbury, acusado de lhe haver escondido o real estado de saúde de Churchill, ela foi bastante dura ao lhe dizer: “Não é meu trabalho governar. Mas é meu trabalho garantir que o país tenha um governo adequado”. Ou seja, em condições de funcionar. E lhe pergunta à queima roupa: “Como fazer isso se meus ministros mentem e escondem a verdade de mim?”.
Outro puxão de orelha bem dado.
Entre os diversos símbolos que cercam uma monarquia constitucional, o mais importante de todos, é aquele que faz da pessoa do monarca o símbolo vivo do Interesse Público. Mais ainda: para lembrar aos políticos e ministros, toda semana, que estão ali para ser servi-lo. E não para se servir do dinheiro público. Boa gestão
governamental se faz no dia a dia, uma promessa jamais cumprida pelo presidencialismo republicano do Patropi. Em especial a luta contra a desigualdade, questão crítica esquecida pela república desde sempre.
Antes que lhe passe, caro(a) leitor(a), pela cabeça que isso é lá na Inglaterra, e não aqui no Brasil, a boa, mas triste, notícia é que já tivemos algo muito parecido até 1889. O regime era parlamentarista, que sempre funciona com quatro poderes: legislativo, judiciário, executivo (primeiro-ministro) e chefia de Estado, presidente eleito ou monarca.
Ou seja, diferentemente do nosso caso atual, o presidente não acumula a chefia de governo com a de Estado. Esta é uma espécie de fiscal e juiz que entra em ação quando os outros três poderes entram em conflito. No Brasil presidencialista, o presidente acumula as duas funções. Ele vira fiscal dele mesmo. E quem acredita na história da carochinha de que alguém consegue ser bom fiscal de si mesmo? Foi assim
que NÓS ficamos a ver navios...

Nota: Digite no Google minha entrevista “Quando o Brasil perdeu o rumo da História”.
Ou link: https://www.youtube.com/watch?v=gtg4NGdjBbQ&t=18s

* Gastão Reis é economista e palestrante
Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira
Empresário e economista . E-mails: gastaoreis@smart30.com.br// ou gastaoreis2@gmail.com
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