Kiko

 O calor deste inverno está sendo tão agradável para os pássaros quanto para nós. Começo cedinho na lida, com disposição. Antes das seis horas, quando amanhece, já recolhi as folhas do quintal da caverna. Logo, o café que mereço. Em seguida, as notícias, do estado em primeiro lugar. Contato os amigos madrugadores e os colegas de profissão. Bem, então é esperar os vizinhos. Ufa! Quase cansei.
Curioso, não há um dia que alguém deixe de reclamar da internet, do celular inoperante, do sinal que sumiu. Prevenido, uso internet de duas operadoras diferentes, duas para ser preciso. Uma para o celular — considero o aparelho uma praga — e outra para o laptop. Sou quase esperto. Aprendi a manobra com um brasileiro que trabalha na Nasa. Ah, ainda tenho o telefone fixo. Se precisar, posso usar sinais de fumaça. Aprendi vendo antigos filmes americanos, com os índios lutando contra os brancos no velho Oeste. Cá entre nós:
fiquei sufocado na última tentativa. Não aconselho. É furada! Ainda prejudica a natureza. Fogueira serve para assar batatas, queimar carne do churrasco e poluir o ar. Mas, vamos em frente.
O Nelson apareceu cedinho. Parece que combinou com o Ibiapina. Júlio, como sempre, faz visita de médico. Adilsinho e Fred, só mais tarde. Ah, tem os vizinhos de bombordo e boreste, claro. Eu? Entre papos e cafezinho, fico de olho no Brasil e no mundo. Aliás, tem gente aqui na área que acredita que sou o velhinho aposentado, que somente varre o quintal, recebe os amigos e que alimenta os pássaros. Não é engraçado? Nem imagina que ainda trabalho na boa imprensa, que desconto, para o INSS e pago o IR, vulgo Leão — incrível, meu signo e de meus dois netos, Natan e Vitor. E, ainda, tento ficar inerte, sem compromissos e sem agendas. Lembram daquela música... "não quero outra vida, de papo pro ar..., quando no terreiro, nas noites de luar, vem a saudade me atormentar. Eu me vingo dela, tocando viola de papo pro ar..."
Ainda chego lá! Bem, quem sabe? Aproveito para marcar os exames médicos. O calor até ajuda a maneirar nas gorduras saturadas.... Depois de aprovado, volto à vida desraigada. Ih, caramba! No meio do marasmo, nem reparei que o tempo mudou. Durou pouco o verão do inverno. Vou esquecer a dieta porque ninguém é de ferro. Tô precisando comer um mocotó com feijão branco e salgados, tipo sopão, acompanhado de uma boa broa de milho. Ih, faltou o vinho! Explico: é comida e bebida de inverno.
Coluna publicada aos sábados