Foi Nelson quem trouxe a discussão, quando passou pelo portão aqui da caverna: e se escrevêssemos para o Papai Noel? Sempre prontos para qualquer debate, os vizinhos de bombordo e estibordo foram se achegando. E, vendo de longe o movimento, os amigos que estavam nas redondezas se aproximaram. Fred trazia com ele dois engradados de latinhas de cerveja, que acabaram, junto com o restante do grupo, dentro do meu quintal.
Deixei de lado a vassoura e me juntei ao conselho, que se instalou ao estalar característico da latinha gelada.
E foi então que o autor do projeto prosseguiu. – Estamos sempre mandando mensagens para as concessionárias ou para o serviço 1746 da Prefeitura para fazer reclamações e pedir religamentos, consertos, poda de árvores. Por que não usar a campanha de Natal dos Correios para mandar um bilhetinho para eles?
Animado pela cerveja, o Fred também defendeu a proposta de protesto natalino. – Claro. Essas campanhas de Natal são maravilhosas e sempre têm ótimos resultados – garantiu. – Todo mundo vê. Dará uma boa publicidade às nossas queixas.
A gente pode pedir para ele ligar para o 190? Nessa semana, até encanamento de gás em condomínio fechado foi furtado.
Aderi imediatamente e, enquanto colocava o carvão na churrasqueira, sugeri: – Querido papai Noel, o senhor pode pedir para religar a minha água? Faz tempo que ando aguardando por essa alegria.
Tirando o whisky da bolsa, Bira acrescentou. – É melhor pedir também pelo fumacê. Vai ser um verão de dengue. – De dengue e de muito calor – rebati. Talvez seja o caso da gente encaminhar para o Bom Velhinho aquele velho pedido para a Light reforçar a oferta durante o verão porque, como canta aquela antiga marchinha, “de dia falta água, de noite falta luz”.
Eis que, entre uma e outra carta, fez-se um rápido silêncio, e a voz do maestro Erlon Chaves, que tocava na vitrola, sobressaiu, e justamente naquele trecho da música... “Eu quero mocotó!”
Um calor do inferno, mas, já que no Natal a gente come bacalhoada, bebe vinho, come rabanada, por que não um mocotó pra inspirar nossos pedidos natalinos?
E assim foi. Mal os aperitivos ficaram prontos – pão de alho, linguiça, queijo coalho e mocotó - e a mesa posta, o conselho já tinha cartinhas suficientes para ocupar a tarde do Papai Noel dos Correios. Mas, antes que o malote tomasse o caminho da rua, Ibiapina interviu. – Pera aí, gente. Mas e o panetone, quem vai pedir?
Afinal, semana que vem é Natal.
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