Experimento a calça que ganhei de presente no Natal para usar no Réveillon. Me veste bem na cintura, mas me aperta os tornozelos.
Lembro que, no tempo da brilhantina, esse tipo de calça, estrangulando as canelas dos homens, era vista pela polícia como indício de malandragem. Tinha até um delegado, o Deraldo Padilha, que desenvolveu uma técnica própria para decidir se o sujeito à sua frente era um cidadão de bem. Ele mandava tirar as calças e jogava uma laranja. Se a fruta não passasse pela perna da calça, ele determinava que era malandro e levava para a delegacia.
O tempo passou, as calças ficaram normais e, de repente, veio também a calça boca de sino, lembram? Mas só que agora, hoje em dia, as fábricas estão fazendo calças com canela apertada. Tem um novo nome, skinny, que significa magrela em inglês.
Até calça de terno agora é assim. Eu acho que economizam o pano e o lucro dos fabricantes é maior. E a população não notou isso.
Sigo detestando esse tipo de calça. Aliás, também não gosto da ideia de vestir roupa nova para deixar a caverna neste período de festas. O ano pode até ser novo, mas o engarrafamento que vou pegar para chegar a qualquer lugar não é nenhuma novidade.
Pensando nisso, em reunião dos velhos amigos do Principado da Água Santa, decidimos inaugurar curso teórico para evitar os engarrafamentos na saída do Rio durante as festas de Natal (ida e volta), Ano-Novo, no Carnaval, na Semana Santa e nestes feriadões que no Brasil tem de sobra.
Mas a loucura das saídas do Rio nos finais de semana, principalmente os prolongados, me lembrou um velho amigo, o Francelino. Ele mora na Serra e vem ao Rio quando tem médico ou trabalho presencial, em dias normais. Os outros conterrâneos, metidos a espertos, fazem o contrário. Meu amigo da Serra, conheço desde os anos 70, sempre curtiu a roça. Ah, ele detesta calça estrangulando a canela. Então, tem apartamento em prédio em Copa e que o usa vez por outra. Mas nunca no Réveillon. Faz o inverso da plebe que encara os engarrafamentos loucos, os pedágios mais caros, as loucuras do trânsito alucinante... Apenas pela chance de, na virada da meia-noite, desejar a todos um feliz Ano-Novo.
Faço isso daqui mesmo, na caverna, vestindo camiseta e bermuda.
Feliz Ano-Novo!