Arte de Kiko para a coluna Histórias do LuarArte: Kiko

É conversando que a gente se entende, diz o dito popular. O papo, apelido da conversa, é uma maneira de comunicação entre pessoas, grupos. Até na guerra. E digo mais, é conversando que a gente se entende às vezes. Senão, mulher não brigava com marido, um vizinho não ralhava com outro, e guerra entre povos não começava. A ONU é a prova disso, passam a vida conversando em assembleias, enquanto os países em conflito dialogam só à bala.
Mas a comunicação é, sem dúvida, fundamental. E tem para todo gosto e ciência. Por exemplo, conversa de bar é uma coisa, conversa de botequim é outra. A primeira é mais ensaiada, com interlocutores previamente agendados, que fica na memória. A outra, pode ser até com um desconhecido, que se tornará o melhor amigo durante a carraspana, mas tem tempo de validade. Tanto ele quanto o assunto evaporam junto com o álcool.
E assim vai....tem conversa de salão de barbeiro, que no interior é uma forma tradicional de se fazer política ou de se discutir, em campo neutro e limpo, com o inimigo político. Tem a conversa na esquina, aquela que um vizinho conversa com o outro sobre a vida alheia. Também conhecida como fofoca de comadre, é quase sempre assunto de linguarudo.
Outro tipo é a conversa do ônibus, onde se fala do trânsito, da falta de um transporte merecido para a classe trabalhadora, dos pontos sujeitos a roubo, e do “acho que vai chover”. Só não vale conversar com o motorista.
E, claro, tem a conversa com os amigos, um santo remédio para vida fluir melhor. Aqui na caverna, por exemplo, a comunicação não é o fim, mas o princípio. Um bom motivo para gente rir, comer, beber e jogar conversa fora.
Já há outras conversas com objetivos definidos, como a conversa mole, aquela de quem não quer pagar o que deve. Fique atento também àquela conhecida por “cerca Lourenço”, porque conversa vai, conversa vem, o malandro vai te pedir um favor. Como acontece, geralmente, naquela conversa com o chefe que você já chega se desculpando e falando sobre a vida dura, para pedir um aumento.
Tem também o Papo furado, aquele que não leva a lugar nenhum, é pura enrolação.
Mas conversa também pode ganhar outro significado dependendo do interlocutor, por exemplo, conversa com a sogra, que todos chamam de discussão, mas não deixa de ser uma forma de comunicação. Pior é aquela da relação, em que depois de horas de debates, um reclama que com o outro não tem diálogo.
Cuidado mesmo com a conversa ao pé do ouvido, quanto mais você abaixa a voz para ninguém ouvir, mais os outros esticam as orelhas para captar o que é dito.
E tem ao final, não esqueçam, a mais íntima das conversas. Aquela de quem fala sozinho. Muitos pensam que é coisa de doido.
Isso porque ninguém sabe, afinal, o que sujeito conversou consigo mesmo.