Arte Kiko para a coluna Histórias do LuarArte Kiko
Eu tava à toa na vida quando os amigos chegaram. Traziam na cachola uma ideia para quebrar a rotina das tradicionais reuniões do Principado de Água Santa. A proposta, aceita imediatamente pelos dez, era a de levarmos os nossos carros para uma “revisão” na oficina do Júlio. Ela fica em Quintino, ao lado da Igreja de São Jorge. Uma desculpa perfeita _ e honesta _ para sair de casa sem as patroas e dar uma esticada até o bar do “Cospe Grosso”, lá das bandas do Engenho de Dentro.
E como a turma daqui não suporta fake News, levamos mesmo os carros até a oficina para o espanto do Júlio. O local é pequeno e atende a no máximo quatro carros por vez. Ao ver a carreata adentrando o portão, o amigo protestou?
Mas aqui nem mesmo cabe tantos carros.
Não temos pressa, Júlio. Vai checando um a um com calma.
Na falta de espaço dentro da oficina, o jeito foi estacionar os carros ali mesmo na igreja. Entrega concluída. Pegamos um ônibus ali mesmo nas proximidades e seguimos para o “Cospe Grosso”.
O bar, como o nome já anuncia, não é dos mais luxuosos, mas os preços cabem direitinho no bolso onde guardamos os trocados da aposentadoria do INSS. E tem comida para todo o gosto. O quitute mais tradicional é o sanduiche de carne assada, um primor.
Só mesmo o Fred, o suíço, não gosta. Aliás, de lá não arrisca nenhum prato caseiro. Pede sempre tremoços. Aliás, também não levou o carro. O antigo Fiat, uma relíquia, não sai mais da garagem.
Já o Ibiapina também deixou a carne assada de lado e pediu batatas fritas. Mas todos nós, sem exceção aproveitamos para tomar uma cerveja bem gelada em nome dos velhos tempos de botequim. Até que alguém lembrou que faltava um integrante do conselho. Desavisado, o Adilsinho ficou lá na oficina. Acho que a revisão era o programa e não a desculpa para sair de casa.
Claro, o amigo pode até perguntar, mas por que não dissemos às patroas que o objetivo final era sair para beber? Porque as pequenas fugas trazem os melhores programas. E, afinal, quando o assunto é apenas beber com os amigos no bar, as patroas sempre reclamam. Mas se houver no caminho, outras razões, como a farmácia, o mercado, o pão fresquinho.... não haverá queixas.
O sucesso do programa foi tamanho que, por decisão da maioria, decidimos instituir o “Dia da revisão”. Motivo para mais uns brindes. Mas, após algumas horas e muitas cervejas veio a conta e a questão. Se todos que estavam ali beberam, quem pegaria os carros ao final do dia?
Talvez seja a hora de instituir o dia do barbeiro.
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