No meio da semana deixei o Principado aqui de Água Santa pra visitar um amigo das antigas, que havia se internado em um desses resorts lá pras bandas de Copacabana. Ao tentar o primeiro carro que vi na fila de táxis, ouvi do motorista que não poderia fazer a corrida porque sofre de fobia de túneis. Cheguei a desconfiar, afinal, um taxista ter medo de túneis deixa ele sem muito espaço para atravessar a cidade, mas, respeitosamente, peguei o carro de trás. O profissional justificou o amigo e disse que ele próprio tinha outra fobia: a todo e qualquer tipo de aranhas.
E, mesmo sem que eu perguntasse, me contou um episódio no Parque Lage, no Jardim Botânico, onde travou ao perceber várias aranhas descendo pelas árvores e teve que ser rebocado dali pela mulher. Enquanto ele falava fiquei pensando nessa situação. Não falamos muito, mas todos nós temos fobias. Lembrei imediatamente do Quicão. Esse era um sujeito corajoso e grandão. Sargento bombeiro, encarava de fogo a desabamento, de afogamento a resgate de suicida no alto dos prédios. Mas congelava mesmo diante de cachorros ou gatos. Não importasse o tamanho, ficava paralisado diante dos peludos.
Tinha também o Zé Roberto. Esse amigo, caixa do Banerj, era pau pra qualquer obra. Sempre disposto a ajudar quem precisasse. Ele tinha um coração e tanto, comprava latas de leite em pó para doar para a maternidade do hospital Gaffrée e Guinle. O apelido dele era Marreco. Pra adiantar o expediente, ele arrecadava as contas de todos os conhecidos ali da região e fazia os pagamentos no caixa antes mesmo do banco abrir. Assim, quando eu chegava lá na agência dele, na Dias da Cruz, para gente almoçar e gritava: “Marreco”! Ele respondia:
Marreco não é pato não!
E fechava o caixa e vinha comigo, para gente emburacar.
Mas tinha uma fobia estranha: medo de ônibus.
Marreco não é pato não!
E fechava o caixa e vinha comigo, para gente emburacar.
Mas tinha uma fobia estranha: medo de ônibus.
Não entrava neles por nada e, de carro, entrava em pânico quando, dirigindo, cruzava com um ônibus.
Eu é que não andava no carro dele. Mas não por fobia, por precaução.
E tem o caso do falecido Porquinho, que ganhou esse apelido porque o pai tinha uma criação de porcos. Ele começou a trabalhar cedo, fazendo entrega de remédios de bicicleta para uma farmácia. Pegou gosto e com o tempo virou atendente e depois se autopromoveu a “médico”, passando mesmo a receitar medicamentos para os clientes. Por isso mesmo desenvolveu uma fobia compreensível: medo de ser preso como charlatão. Não podia ouvir uma sirene passando em frente à farmácia, que pensava logo que era com ele.
Eu mesmo desenvolvi uma fobia: medo de envelhecer. Mesmo com algumas limitações e chegando a 81 invernos em agosto, já estou acostumado a ser jovem.
E digo aos desavisados: velho é a mãe!
Eu é que não andava no carro dele. Mas não por fobia, por precaução.
E tem o caso do falecido Porquinho, que ganhou esse apelido porque o pai tinha uma criação de porcos. Ele começou a trabalhar cedo, fazendo entrega de remédios de bicicleta para uma farmácia. Pegou gosto e com o tempo virou atendente e depois se autopromoveu a “médico”, passando mesmo a receitar medicamentos para os clientes. Por isso mesmo desenvolveu uma fobia compreensível: medo de ser preso como charlatão. Não podia ouvir uma sirene passando em frente à farmácia, que pensava logo que era com ele.
Eu mesmo desenvolvi uma fobia: medo de envelhecer. Mesmo com algumas limitações e chegando a 81 invernos em agosto, já estou acostumado a ser jovem.
E digo aos desavisados: velho é a mãe!
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