Não lembro quem deu a ideia que foi imediatamente aceita pela confraria de amigos aqui do Principado de Água Santa. Decidimos, afinal, fazer nesse 2024 um “arraiá” diferente: uma festa junina a caráter, e em família, num piquenique. Como já moramos, de certa forma, no campo, porque essa região do subúrbio é cercada de mato e passarinhos, decidimos que a festa seria na praia. Uma escolha aleatória já que nenhum dos amigos tinha uma casa para oferecer fosse na Região dos Lagos, fosse na Costa Verde. Manter uma segunda casa, com impostos e caseiros, não cabe no bolso do aposentado.
Escolhemos então a Praia de Mangaratiba, na Costa Verde.
Acordamos mais cedo do que de costume, varri o quintal, deixei comida suficiente para a Chiquinha, Iune e Catrina, enquanto minha mulher recolhia em cestas os quitutes preparados na véspera. Portão fechado, ainda olhei para cima para conferir mais uma vez a previsão do tempo e descemos até a esquina, onde duas vans aguardavam a legião de idosos festivos.
Foi impagável encontrar o Ibiapina vestido de noiva. Como as mulheres decidiram que ficariam de fora dessa parte do combinado, a escolha da noiva saiu no palitinho.
Antes que eu fizesse qualquer comentário sobre a fantasia, ele retrucou:
Você está a personificação do padre. Essa batina nasceu para você.
O Fred mas parecia um camponês da Argóvia, região onde nasceu na Suíça, do que um noivo caipira. Cumprimentos feitos e mantimentos checados, lotamos as vans e seguimos para a Rio-Santos, avistando ao longe da estrada a Toca de Coelho, restaurante muito acolhedor e saboroso, de um amigo com o mesmo nome, que fica na beira da estrada.
Uma vez na praia, nada de fazer fogueira. O fogo ficou mesmo por conta das bebidas quentes e dos petiscos apropriados para a festa. Na animação, o Fred, um legítimo caipira de sotaque suíço, puxou a roda cantando uma música típica alemã. Em português, o nome é “Barril de Chope”.
Ao final dos quitutes e bebidas, damos por encerrados os festivos, recolhemos as tralhas e o lixo e voltamos para as vans. Mas dessa vez, com uma parada obrigatória: a Toca do Coelho.
Ali, seguimos cantando as músicas da terrinha do amigo e derrubando o barril de chope do restaurante, enquanto aguardávamos o prato principal, aquele contrafilé com três centímetros de altura por 17 de comprimento, acompanhado das legítimas batatas fritas.
Um dia único. Triste foi a volta.
_ A sorte é que esses meses são santos. Depois de São João, teremos logo em julho, Santo Antônio, São Pedro e São Paulo _ comentou Nelson, fantasiado de cobra.
Pode ser, mas julho já é inverno e a praia está descartada do programa.
No fundo, não importa a região ou o clima. O fato é que nós, os velhinhos, não querem mesmo é envelhecer, mas continuar como Peter Pan.