Vamos botar as cartas na mesa. Diferentemente do sol de outono que invadiu meu quintal, a PEC das praias ainda está nebulosa. O assunto veio de supetão, durante a reunião aqui do Principado que tinha como objetivo organizar um piquenique no Alto da Boa Vista, em plena Floresta da Tijuca. Júlio, o caçula do grupo, lembrou que nessa época do ano, a Floresta é muito fria, desaconselhável para os ossos dos mais velhos.
– A praia também é – alertou Ibiapina. No que foi interrompido por Fred.
– Mas é melhor que a gente vá agora, enquanto ainda é pública.
Pronto. O assunto estava posto.
Os mais velhos do grupo, e eu me incluo entre eles, decidiram então que a PEC merecia uma reunião secreta. Sem escutas.
Deixamos a área do Principado e descemos para a caverna. Coube as gatas Iune e Catrina a varredura no local, que foi abastecido de cervejas e tira-gostos. Afinal, como toda discussão que se preze, o escrutínio poderia mesmo demorar.
Nelson trouxe a questão de que, caso aprovada a mudança em lei para permitir a comercialização das faixas de areia, deveria incluir nela a cláusula das compensações ambientais, como acontece na regra do côncavo e do convexo. Como diz a letra da música do Erasmo e do Roberto Carlos: “curvas se acham e as “formas se encaixam na medida perfeita”.
Sem papas na língua, o relator Ibiapina foi quem exemplificou melhor a nossa contraproposta ao projeto.
– Se um empresário quiser comprar a praia da Restinga para montar ali o seu resort, vai ter que levar junto a praia de Ramos e o piscinão. E despoluir o mar.
A ideia trouxe outra.
– Mas o mar é de Marinha, nesse caso então, quem fica com o cocô que é expurgado pelo emissário submarino?
Antes que algum amigo atribuísse a alguém essa responsabilidade, interrompi a discussão nesse ponto para pedir uma nova varredura.
E ponderei. Essa discussão sobre a privatização das praias é antiga. Lembro que certa vez, no século passado, o cantor Frank Sinatra veio ao Rio, como intermediário dos financistas de Las Vegas, atrás de empreendimentos imobiliários na orla fluminense para instalar ali um cassino. Até de helicóptero ele passeou para conhecer melhor o terreno.
E o Castor? Quem não lembra de sua casa na praia do Saco do Céu, na Ilha Grande? A areia era pública, mas a presença de cães e placas ameaçadoras desanimavam qualquer banhista de botar toalha ali.
A praia pode até ser privatizada, mas o mar é para todos.
O problema é quem vai cuidar do acesso.
– Nada de novo no front – lamentou Nelson.
Que levem as praias de mais de oito mil quilômetros do litoral brasileiro, mas em compensação, levem também o Canal do Mangue.
Afinal, é como diz o ditado: piranhas poucas, meu pirão primeiro.