Que nesse país se rouba de um tudo, desde as joias do Sultão à tampa de bueiro, não é novidade. Mas a notícia de que um caminhão com carga radioativa foi roubado em São Paulo agitou a semana de conversas entre os veteranos aqui do Principado de Água Santa. Deixando de lado o fato de que a carga, apesar de extremamente perigosa, viajava sem escolta, o que mais chamou a atenção foram as explicações da CNEN
(Comissão Nacional de Energia Nuclear).
Depois de alertar que a manipulação inadequada daquele produto surrupiado poderia causar danos à saúde, a CNEN tranquilizou a população afirmando que o veículo e o material radioativo estavam sinalizados com o símbolo internacional de radiação.
Quer dizer que basta deixar um bilhete ou um símbolo para o assaltante? Pronto. Resolvido.
Decidimos que estava na hora de nós também avisarmos nossas condições para os possíveis gatunos de ocasião. Camisetas, com o aviso estampado, distribuída para os amigos, avisando a situação de quase
penúria, poderia mostrar que haveria condições de "ajudar" os ladrões.
Fernando, que é o homem das leis e das palavras, propôs que o termo fosse mais formal:
“Senhores ladrões, eu estou na rua sem celular, sem relógio, sem documento, sem lenço, e pronto a adiantar aos senhores que tenho 15 reais que a patroa me dá todos os dias. Não me assustem por favor. Sou um velho que vive do INSS e peço a sua compreensão. ”
Júlio ponderou:
— Está longo demais.
— Mas você acha que aqueles assaltantes lá de SP conheciam o símbolo internacional de radiação?
— Eles se acostumam. O importante é a comunicação direta com o público alvo. No caso, o ladrão.
Foi quando eu me lembrei da história que o amigo Ronaldo, que mora na Zona Sul, contou. O vizinho já estava cansado de ver seu carro, que ficava estacionado durante toda a noite na rua, amanhecer com o vidro quebrado. Então, deixou o seguinte recado:
“Senhor ladrão, não precisa quebrar o vidro. A porta está aberta. Por favor, entre e pegue o que o senhor desejar sem precisar destruir meu veículo. Agradecido”.
Confesso que nessa deliciosa mesmice danada onde vivemos, essas aventuras urbanas são mais raras. Aqui, por uma felicidade suburbana, os gatunos são em geral de quatro patas, e vivem a furtar rações alheias. E são rápidos, conseguem deixar até mesmo Chiquinha para trás na fuga.